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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro vai tumultuar as eleições de 22. E com auxílio do general Heleno

Alan Santos/PR/Agência Brasil
Imagem: Alan Santos/PR/Agência Brasil

Colunista do UOL

15/12/2021 11h28

De todas as campanhas eleitorais ao longo da história da república, a de 2022 certamente será a mais violenta. Durante a República Velha algumas eleições foram marcadas pela tensão. O sistema eleitoral coronelístico impedia que a oposição tivesse a possibilidade de vencer o candidato oficial. Em 1910 e 1919, quando Ruy Barbosa enfrentou Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa, respectivamente, encontrou enorme dificuldade para poder desenvolver sua campanha eleitoral. Em vários comícios seus apoiadores foram atacados por capangas a serviço do oficialismo. Nas eleições estaduais, os opositores dos governadores também enfrentavam a violência estatal e alguns embates acabaram levando à intervenção federal, único meio de conter os ânimos. E que terminava com a posse dos eleitos de forma fraudulenta.

Com a criação do Código Eleitoral e da Justiça Eleitoral, ambos em 1932, o cerceamento ao debate acabou sendo relativamente contido. Mesmo assim, muitas eleições foram marcadas pela violência contra os opositores, especialmente em áreas onde o poder coronelístico acabou se mantendo.

Com a redemocratização, em 1985, e, mais ainda, após a promulgação da Constituição de 1988, as eleições foram se transformando em momentos de expressão da vontade da cidadania. De 1989 até 2018, foram realizadas oito eleições presidenciais, seis delas com a necessidade de um segundo turno. Os pleitos acabaram se desenvolvendo em clima de relativa ordem, mesmo quando as paixões políticas estavam açuladas.

Este quadro não deve se repetir em 2022. Os três anos de governo Bolsonaro transformaram o clima político. O golpismo, as constantes ameaças às instituições, a naturalização da barbárie, o desprezo dos valores constitucionais, desenham um cenário preocupante. E mais: tudo indica que a reeleição de Bolsonaro vai derreter. O que ele tem para apresentar aos eleitores. Quais as realizações? O país cresceu? A inflação caiu? O emprego aumentou? A pandemia foi enfrentada segundo as recomendações da ciência? A fome virou uma triste lembrança do passado? O Brasil tem uma presença expressiva no mundo?

Neste cenário resta a Bolsonaro apelar para a violência, para a desmoralização do processo eleitoral, ameaçar jornalistas, atacar as instituições e produzir em escala industrial as fakes news, sem esquecer as fake pesquisas eleitorais que vão inundar o noticiário. E vai contar com o decisivo apoio da extrema-direita mundial sob a batuta de Steve Bannon. Este dirige uma organização terrorista chamada Movimento. Tem como seu representante na América do Sul o deputado Eduardo Bolsonaro. Bannon deve coordenar os esforços dos extremistas para atacar o sistema do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo é desmoralizar as urnas eletrônicas e o processo de apuração. E não faltará dinheiro para financiar o esquema criminoso.

As últimas declarações do general Heleno reforçam esta análise. O trêfego oficial —que, como medida profilática, poderia ser interditado judicialmente— deu o sinal para as milícias bolsonaristas. Vai começar o ataque orquestrado às instituições. Bolsonaro vai retomar a ladainha do "meu Exército", de que "o poder é do povo", que o "STF quer governar em seu lugar" e que a saída é a "intervenção militar constitucional".

Não vai causar estranheza se o patético general coordenar a estratégia miliciana de Bolsonaro para as eleições. O GSI, a Abin e a PF poderão ser utilizados como instrumentos de coação contra adversários. Nem o Doutor Pangloss está otimista com o processo eleitoral de 2022.