Nem o gado acredita que terra indígena é solução para a pecuária
Ontem o youtuber Felipe Neto cantou a bola no Twitter e muita gente endossou: depois de um ano acompanhando o modus operandi dos Bolsonaro, não restava a menor dúvida de que um factoide bem idiota seria lançado pela família hoje, para desviar a atenção das denúncias contra Flávio e Queiroz.
É o que eles sempre fazem.
Só que essa estratégia padece do mesmo problema do humor de bordão, aquele que termina com uma situação esperada ou frase pronta: o desgaste depois de algum tempo de uso obriga o roteirista a exagerar. Mais e mais. Até ultrapassar as fronteiras do absurdo.
O que, aliás, nem sempre funciona: quando carregado na tinta, o quadro pode acabar forçado demais. Falso demais. E soar constrangedor.
É o caso da afirmação despropositada do presidente Jair Bolsonaro, hoje, de que é preciso criar boi em terra indígena para reduzir o preço da carne.
Futuro do boi
Há menos de um ano, em seu primeiro contato com a Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, o ministro Marcos Pontes, com aval da comunidade científica, mostrou que o futuro da pecuária passa longe do desmatamento, dos pastos gigantes e da destruição das reservas indígenas ou áreas ambientais protegidas.
O grande agronegócio brasileiro sabe que em menos de três décadas a carne desenvolvida em laboratório a partir de células-tronco vai transformar a indústria, da mesma maneira que a tecnologia criou, de forma disruptiva, novas soluções para outros velhos problemas: transporte urbano, comunicações, publicidade, entretenimento.
Melhor e mais barato
Governos, startups e gigantes da economia tradicional estão se posicionando. A China investiu US$ 300 milhões em uma única empresa israelense de carne de laboratório. Nos EUA, três investidores de backgrounds diferentes (Cargill, Bill Gates e Richard Branson) se preparam para lançar nos próximos anos um hambúrguer com gosto, textura e até sangue de carne bovina, totalmente feito em laboratório. Uma unidade custava US$ 300 dólares há dez anos. Hoje custa US$ 9. Em breve um hambúrguer grosso e suculento, de pura carne bovina, custará menos que os mais comuns à venda hoje, aqueles processados com soja e cartilagem que são o padrão do mercado.
Destruir a biodiversidade da Amazônia e a cultura indígena sob o pretexto de que é preciso produzir mais carne agora, insistindo no já ultrapassado slogan de que a vocação do Brasil é ser o "celeiro do mundo" é uma ideia retrógrada até para os padrões do governo Bolsonaro.
Mais ciência
Como o próprio ministro da Tecnologia mostrou a um grupo seleto de parlamentares antenados, de diferentes linhas ideológicas, o futuro do Brasil depende muito mais de computadores robustos, pesquisadores e bons laboratórios do que de grandes extensões territoriais, motosserras e queimadas.
Mas Flávio Bolsonaro está de volta às manchetes, acompanhado de suspeitas e denúncias. É preciso causar. E causar com impacto suficiente para chamar a atenção de um povo que, depois de um ano dos mesmos bordões, já não se impressiona com piadas óbvias.
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