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Duvivier: Humor de Bolsonaro funciona quando a esquerda fica ultrajada
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O ator e roteirista Gregorio Duvivier participou nesta quarta-feira (22) do UOL Entrevista, apresentado por Fabíola Cidral. Fui um dos entrevistadores ao lado do colunista Leonardo Sakamoto. Um dos temas da conversa, claro, foi o presidente Jair Bolsonaro e o seu humor peculiar.
Gregorio mencionou um artigo da crítica de televisão da revista New Yorker, Emily Nussbaum, publicado em 2017, intitulado "Como piadas venceram a eleição". O texto fala sobre o humor de Donald Trump.
"O artigo mostra como a estrutura do pensamento do Trump é de um humorista, não de um político. E que havia uma novidade neste trumpismo que era a extrema-direita humorística, uma extrema-direita kkk, com perdão do trocadilho, a Klu Klux Klan do humorismo", disse.
Gregorio, então, fez o paralelo com o presidente brasileiro:
"Bolsonaro é a versão tupiniquim disso. É um presidente que pensa como humorista. Um péssimo humorista, mas ele pensa. Quando ele estende cloroquina para uma ema, ele está tentando fazer uma piada. E quando a gente repercute essa imagem, 'olha que absurdo!', a gente está caindo na piada dele. E ele acha mais graça ainda. A piada que não tinha graça, passa a ficar mais engraçada ainda quando a gente fica chocado, indignado. A nossa postura em relação a ele nunca pode ser essa, de indignados, 'meu Deus, como ele é ultrajante'. Porque o sonho de todo comediante ruim é ultrajar."
E observou:
A gente precisa bater nele não nas piadas, mas nas cagadas, no estrago que ele entrega na economia, no escândalo da rachadinha, da vacina... O sonho dele era ter sido humorista. Humorista e americano. Ele usa muito as ferramentas do humor: o exagero, o ultraje, o palavrão, o tabu, a surpresa, o preconceito, nem se fala. A gente tem na Presidência o pior dos humoristas. E isso para um humorista é muito difícil.
Para Duvivier, o humor de Bolsonaro funciona quando "a esquerda fica séria, ultrajada e ofendida". Explica ele:
Isso é muito ruim porque o ofendido, sobretudo no Brasil, é uma categoria muito elitista. O brasileiro, no geral, tende a se identificar mais com aquele que ofende do que com o ofendido. A categoria do ofendido no Brasil é muito anticarismática, e parte do problema da esquerda hoje no Brasil é que ela está sempre ofendida, e isso não atrai ninguém, é chato pra caramba.
Veja a íntegra da entrevista:
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