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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

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Especial de humor da Netflix causa vazamento de dados, demissão e passeata

Dave Chappelle, no especial "Encerramento", da Netflix - Mathieu Bitton/Netflix
Dave Chappelle, no especial 'Encerramento', da Netflix Imagem: Mathieu Bitton/Netflix

Colunista do UOL

15/10/2021 18h21Atualizada em 15/10/2021 23h50

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Além dos protestos que o comediante Dave Chappelle sempre provoca com o seu humor agressivo, o mais recente programa que fez para a Netflix, "Encerramento", está produzindo uma onda de problemas inéditos.

As piadas sobre transgêneros, um dos temas principais do novo especial, geraram reação muito forte dentro da própria Netflix. Nesta sexta-feira (15), uma funcionária foi demitida sob a acusação de vazar dados sigilosos da empresa sobre os custos de produção de vários programas, incluindo os de Chappelle.

Os dados foram divulgados pela Bloomberg. Eles mostram que a Netflix gastou US$ 24,1 milhões com "Encerramento", um pouco mais do que os US$ 23,6 milhões que pagou pelo especial anterior de Chappelle, "Sticks & Stones", de 2019. Em comparação, o serviço de streaming gastou US$ 3,9 milhões com "Inside", o especial recente de Bo Burnham, que faturou vários prêmios.

Mais surpreendente ainda, o especial de Chappelle, visto por 10 milhões de assinantes até o momento, custou mais para a Netflix do que "Round 6", o programa mais assistido na história da empresa, que saiu por US$ 21,4 milhões.

O vazamento de dados incluiu a divulgação de dois índices usados pela Netflix. "Sticks & Stones" teve um "valor de impacto" de US$ 19,4 milhões, o que significa que custou mais do que o valor gerado, de acordo com documentos internos revelados pela Bloomberg. O outro indicador usado pela empresa para avaliar seus programas é a "eficiência", ou seja, a relação entre o custo e o alcance. Nessa escala, o especial de Chappelle marcou 0,8 - menos do que a pontuação do ponto de equilíbrio de 1. Em comparação, "Inside" de Burnham marcou 2,8.

A Netflix confirmou a demissão da pessoa acusada de ter vazado estes dados. "Demitimos um funcionário por compartilhar informações confidenciais e comercialmente sensíveis fora da empresa", disse um porta-voz da empresa em um comunicado à Variety. "Entendemos que esse funcionário pode ter sido motivado pela decepção e mágoa com a Netflix, mas manter uma cultura de confiança e transparência é fundamental para nossa empresa".

Um protesto virtual organizado por funcionários transgênero da Netflix, por causa do especial de Chappelle, está programado para a próxima quarta-feira (20). Segundo o site Gizmodo, cerca de 1.000 funcionários estariam planejando aderir ao protesto.

O site The Verge afirmou que a funcionária demitida, uma mulher negra e grávida, era líder do grupo de funcionários transgêneros e estava organizando o protesto do dia 20.

No início desta semana, três funcionárias da empresa foram suspensas por participarem de uma reunião para a qual não haviam sido convidadas. Entre elas, estava Terra Field, a autora de uma série de publicações no Twitter com críticas ao especial do comediante. A Netflix afirmou que a suspensão não foi por causa dos comentários nas redes sociais: "Nossos funcionários são incentivados a discordar e nós apoiamos o direito deles de fazê-lo". Um dia depois, a suspensão foi revista.

Em memorando interno, Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, defendeu a exibição de "Encerramento". "Assim como acontece com outros talentos nossos, trabalhamos muito para apoiar a liberdade criativa - mesmo que isso signifique que sempre haverá conteúdo na Netflix que algumas pessoas acreditam ser ofensiva", disse.

"Vários de vocês também perguntaram onde traçamos o limite do ódio. Não permitimos títulos da Netflix que tenham como objetivo incitar o ódio ou a violência e não acreditamos que 'Encerramento' ultrapasse essa linha. Reconheço, no entanto, que distinguir entre opinião e dano é difícil, especialmente com a comédia stand-up, que existe para ultrapassar os limites", disse Sarandos.