Após oito anos, espanhol "El País" anuncia fim da edição brasileira do site

Em nota publicada no seu site, o "El País", o principal jornal da Espanha, comunicou que a edição brasileira, criada em 2013, deixará de existir. "Apesar de ter atingido grandes audiências e um número considerável de assinantes digitais, ela não alcançou sua sustentabilidade econômica, o que levou à decisão por sua descontinuidade."

Rumores sobre a inviabilidade econômica do empreendimento já circulavam há algum tempo. Mas a decisão pegou todos de surpresa na redação em São Paulo. A equipe foi comunicada nesta manhã. O "El País" brasileiro tem 17 funcionários registrados; todos serão demitidos.

A redação brasileira do "El País" era comandada pela jornalista Carla Jimenez. O site produzia noticiário aprofundado, de qualidade, sobre o Brasil. Entre os seus colunistas brasileiros, despontavam Eliane Brum e Xico Sá.

Em carta divulgada nas redes sociais, os profissionais que faziam a edição brasileira do site se despediram dos leitores. "Obrigada por nos ajudar a fazer o jornalismo que chama as coisas pelo seu nome", diz o texto (veja a íntegra abaixo).

O noticiário produzido pelos correspondentes do jornal no Brasil agora será publicado na edição América do site, em espanhol.

A presença de sites como o do "El País" causou incômodo no mercado brasileiro. Em outubro de 2016, ANJ (Associação Nacional de Jornais) entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade para que o Supremo confirmasse que sites e portais noticiosos estavam sujeitos à lei que limita a participação de capital estrangeiro no setor jornalístico.

Veja abaixo o comunicado oficial divulgado na manhã desta terça-feira (14) aos leitores:

A edição em português do EL PAÍS despede-se hoje de seus leitores. Esta edição nasceu em 2013 e durante oito anos informou sobre a atualidade brasileira e mundial. Neste tempo, apesar de ter atingido grandes audiências e um número considerável de assinantes digitais, ela não alcançou sua sustentabilidade econômica, o que levou à decisão por sua descontinuidade.

O EL PAÍS, que mantém correspondentes em São Paulo, conta com a mais extensa rede de jornalistas no continente. A partir de sua redação na Cidade do México, dos escritórios de Washington, Bogotá e Buenos Aires e de seus jornalistas nas principais capitais, a edição do EL PAÍS América oferece a mais completa cobertura em espanhol da área. Um esforço que será ampliado nos próximos meses e no qual o jornal concentrará suas energias.

Queremos agradecer aos profissionais do EL PAÍS Brasil por seu grande esforço e dedicação. Como também à fidelidade de nossos leitores, que poderão acompanhar a informação sobre a região e o resto do mundo em nossa edição da América. Para este jornal, o Brasil é um eixo da informação global tanto no plano político e econômico, quanto no cultural e social.

Abaixo, a carta divulgada nas redes sociais pelos profissionais que faziam a edição brasileira:

Querido leitor, a equipe do EL PAÍS Brasil foi informada hoje, assim como vocês, do encerramento das atividades da edição após oito anos. Nascemos dos ventos de 2013, quando milhares de leitores foram buscar na Espanha uma visão dos maiores protestos da história. Nos orgulhamos de ter contado em profundidade a crise que se seguiu, buscando que cada título refletisse um país que desmoronava. Mapeamos os interesses no impeachment. Escrutinamos todos os lados da Lava Jato. Trouxemos para as manchetes os crimes contra os direitos humanos, o racismo, os estupros e a ameaça à democracia.

Construímos este jornal com você. E, por isso, fazemos questão de agradecer pessoalmente seu apoio e seu voto de confiança. Obrigada por nos ajudar a fazer o jornalismo que chama as coisas pelo seu nome.

Um abraço e até breve.

Assinam a carta Carla Jimenez, Flávia Marreiro, Talita Bedinelli, Afonso Benites, Marina Rossi, Felipe Betim, Gil Alessi, Beatriz Jucá, Joana Oliveira, Regiane Oliveira, Daniela Mercier, Rodolfo Borges, Diogo Magri, Camila Sousa, Fernanda Becker, Heloisa Mendonça.