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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

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Greg News volta engajado e pretende "não cair nas armadilhas de Bolsonaro"

Gregorio Duvivier estreia nesta sexta-feira (18), às 23h, uma nova temporada de "Greg News" na HBO Brasil  - Reprodução
Gregorio Duvivier estreia nesta sexta-feira (18), às 23h, uma nova temporada de "Greg News" na HBO Brasil Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/03/2022 07h01

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Numa versão mais curta do que o habitual, mas com o ímpeto de sempre, Gregorio Duvivier estreia hoje (18) a sexta temporada de "Greg News", o programa de "comedy news", fundindo comédia com notícias, que mantém na HBO Brasil desde 2017.

Por causa das eleições em outubro, o programa terá apenas 19 episódios, terminando em 15 de julho (a temporada de 2021, por exemplo, teve 31 episódios). Em novembro, encerradas as eleições, "Greg News" retorna com mais quatro episódios inéditos.

Depois de dois anos gravando sem a presença de público, por causa da pandemia de coronavírus, "Greg News" este ano será feito diante de uma plateia de 20 pessoas. O programa estreia um novo cenário e agrega novos colaboradores na redação.

Uma das preocupações de Duvivier e sua equipe é como fazer humor num momento em que estão todos tão engajados politicamente. "É um ano que não tem muito espaço para a moderação, para a ponderação. Normalmente, o humor é desconfiado das certezas. Mas esse ano não tem como", disse em entrevista ao UOL. "Vamos tentar não cair nas armadilhas do Bolsonaro. O que ele quer agora é que a gente fale de censura, e esse é o último problema do Brasil, embora seja de fato escandaloso". Abaixo, os principais trechos:

Greg News em ano eleitoral
Em época de eleição, toda a rigidez que o TSE não tem com propaganda política, com disparo em massa de WhatsApp, tem com jornalismo e humor. Então, a gente prefere nem fazer. E coincide também que vou ter uma filha, que nasce em julho. Minha segunda filha. Vai ser bom que vou poder focar neste projeto mais importante.

Humor em 2022
Estamos muito engajados para fazer humor. Ainda mais nestas eleições contra Bolsonaro. Embora o programa não seja imparcial, ele precisa de uma certa objetividade, não é uma campanha política. E acho que nessas eleições especificamente a gente vai estar engajado um pouco demais para fazer humor. É até bom, neste sentido (não gravar nos meses mais próximos da eleição).

Presença da plateia
Estamos voltando com reunião presencial. Muita gente não se conhecia ao vivo, depois de dois anos em reunião online. Foi muito bom. Teve um grande impacto. Estamos todos emocionados. Que bom que voltamos. Tem plateia de novo e estúdio. Por enquanto, são 20 pessoas. Já tivemos 200 pessoas no estúdio em 2019. Plateia é muito importante neste programa. É um programa feito com plateia, mas também para ela. Ajuda muito no feedback. A gente faz uma passada (do texto) para a plateia.

Cenário
Mudou também. Sai aquele fundo de cidade. Agora é um fundo de montanha, bem carioca, bonito. Uma alusão ao Rio e também uma alusão à fuga para as montanhas, que pode acontecer este ano. Talvez a gente seja obrigado a fugir para a serra.

A estreia
O primeiro programa será sobre adolescentes. Hoje temos a taxa mais baixa de inscrição de adolescentes para a votação. Só 10% dos adolescentes, entre 16 a 18 anos, faixa em que o voto é facultativo. Ainda tem um pouco mais de um mês para que eles se inscrevam. Estamos lançando uma campanha.

Contornando Bolsonaro
Vinte episódios falando o quanto Bolsonaro fez um péssimo governo, o quanto ele é um fascista, um inútil, vai ficar cansativo. Vamos falar de eleição tentando tratar de algo que não está sendo dito, algo que é importante lembrar. Qual é o motivo para os adolescentes não estarem se inscrevendo? Assim como não se inscreveram para o Enem. Esse governo declarou guerra à adolescência.

Censura ao filme de Danilo Gentili
É muito óbvio como esse governo em momentos de crise sempre inventa uma pauta moral, tirada do fundo do baú. Um filme de cinco anos atrás que eles tinham adorado. É uma bomba ninja de fumaça para disfarçar a situação do governo. É escancarado. Uma máquina de distração.

Zelensky, comediante que virou presidente
Os defeitos que apontam no Zelensky, que é um despreparado, um inconsequente, são defeitos do comediante, de um modo geral. Um dos motivos que você não pode votar em comediante é que ele é um destemido, por definição. Toda a graça só existe se você correr riscos. O comediante tem um pacto com a verdade também, ao contrário do que dizem. A piada, em geral, quanto mais engraçada, mais verdadeira. Votar num comediante dá nisso mesmo: um sujeito que tem um pacto com a verdade, e com a coragem. E domina bem as ferramentas do século 21: o meme, o selfie. Dá nisso aí. É um bom alerta a todos os comediantes do mundo: não se candidate.

Dificuldades para o humor
É muito difícil fazer humor quando estamos tão engajados. Engajado a gente sempre é. Neste caso, é um pouco maniqueísta, sim, às vezes. A realidade às vezes é maniqueísta. É um ano que não tem muito espaço para a moderação, para a ponderação. Normalmente, o humor é desconfiado das certezas. Mas esse ano não tem como. Então, o que a gente está fazendo é tentar abordar as eleições pelas beiradas. Depois de adolescentes, vamos falar de agrotóxicos, de grilagem. Vamos tentar não cair nas armadilhas do Bolsonaro. O que ele quer agora é que a gente fale de censura, e esse é o último problema do Brasil, embora seja de fato escandaloso. Estamos atentos a não cair nas armadilhas bolsonaristas