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Perto da eleição, Silvio e Ratinho fazem propaganda disfarçada do governo
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A pouco mais de três meses das eleições, o SBT segue emitindo sinais de simpatia explícita pelo presidente Jair Bolsonaro. Não estou falando do jornalismo da emissora, que tem feito uma cobertura correta dos acontecimentos políticos. Mas da área do entretenimento, que aproveita as brechas para promover o governo.
O caso mais rumoroso da semana envolveu Silvio Santos, principal apresentador e dono do canal. No domingo (26), ele recebeu o deputado estadual Frederico d'Avila (PL-SP), que o presenteou com o colar de honra ao mérito legislativo, uma honraria concedida em 2020, mas não entregue antes por causa da pandemia de coronavírus.
Não é a primeira vez que Silvio, vaidoso, abre espaço no palco do seu programa para receber homenagens. A novidade desta vez é que D'Avila, anunciado como um amigo da família, aproveitou a oportunidade para promover a própria candidatura e falar do presidente.
"As eleições estão se aproximando", lembrou Silvio. D'Avilla contou que é pré-candidato a deputado federal pelo PL. Daquele jeitão que todo mundo conhece, o apresentador fingiu ignorância: "o teu partido tá apoiando Bolsonaro ou Lula?" E o candidato explicou, didaticamente: "é o partido do presidente Bolsonaro. Estaremos juntos até lá".
D'Ávila xingou o papa Francisco de "vagabundo" na tribuna da Assembleia em outubro de 2021. Ele pediu desculpas pela fala, mas não escapou da penalização do Conselho de Ética, que aprovou um relatório indicando a suspensão de seu mandato por três meses. Desde então, aliados têm boicotado a votação em plenário da proposta de afastamento do mandato.
O toque de humor da cena de Silvio com D'Ávila foi dado por uma espectadora, na audiência, que ficou descontente com a propaganda governamental e fez um gesto com os dedos indicando apoiar Lula. Nas redes sociais, esse momento foi o que teve maior repercussão, inclusive com mensagem do ex-presidente mandando um abraço "para a jovem de vermelho".
Na segunda-feira (27), foi a vez do apresentador Ratinho usar o seu programa para dar uma mão ao presidente Bolsonaro. Ele convidou o economista Pablo Spyer, apresentador da TV Jovem Pan, para falar sobre o preço da gasolina — um tema de programa jornalístico, não de entretenimento.
Como se sabe, os seguidos aumentos nos preços dos combustíveis são vistos pelo governo como um fator que pode atrapalhar o resultado eleitoral do presidente e de políticos que o apoiam. Spyer repetiu o discurso governamental sobre o assunto, realçando que se trata de um problema global, e não apenas brasileiro. O economista também falou de corrupção na Petrobras no governo de Dilma Rousseff (PT).
Publicidade paga
Também chamou a atenção nos últimos dias a divulgação de novas ações de merchandising do governo em programas comandados por apoiadores do presidente Bolsonaro. Na semana passada, José Luiz Datena fez uma ação promocional do programa Auxílio Brasil.
Na TV Jovem Pan, os apresentadores Kallyna Sabino e Bruno Meyer também enalteceram programas federais. A primeira falou do Auxílio Brasil e o segundo do Casa Verde Amarela. Abertamente defensora do governo Bolsonaro, a JP também exibe frequentemente, sem filtros, atos e entrevistas presidenciais.
Pra lembrar
A decisão da Suprema Corte americana de revogar o direito ao aborto dividiu os Estados Unidos. Festejada em alguns estados, que imediatamente tornaram o aborto proibido, a medida foi criticada em outros, comandados por governos mais liberais.
Várias empresas de mídia e entretenimento se comprometeram a apoiar os seus funcionários após a decisão da Suprema Corte. A Disney, que tem discussões acaloradas com líderes conservadores por causa do seu apoio à comunidade LGBTQ, disse que cobrirá o custo de viagem para funcionários que precisarem fazer aborto, mas não puderem ter acesso aos cuidados necessários em seus estados.
Segundo a Bloomberg, Netflix, Paramount e Sony anunciaram que oferecerão apoio financeiro para funcionárias que precisarem acessar assistência médica fora de seu estado de origem, principalmente por meio de seus planos de seguro. Várias empresas de telecomunicações e cabo, como T-Mobile e Comcast, também indicaram a seus funcionários ações semelhantes.
Há pressões, também, para que empresas que produzem conteúdo audiovisual evitem desenvolver projetos e filmagens em estados que restringem o direito ao aborto.
Pra esquecer
Pressionada pela divulgação de notícias erradas e incompletas sobre o drama que estava vivendo, a atriz Klara Castanho se sentiu obrigada a revelar que foi estuprada, engravidou e doou o bebê. A origem do vazamento das informações, tudo indica, foi uma pessoa ligada a uma enfermeira do hospital onde a atriz estava internada.
A partir daí, como relatou o colunista Tony Goes, o drama de Klara Castanho se tornou tema de conversa de bastidores de jornalistas e assunto insinuado em um talk show. Até que dois jornalistas e uma youtuber decidiram publicar informações a respeito.
O sensacionalismo em torno de celebridades não é um problema novo. Remonta ao século passado, pelo menos. O que é novo é a rapidez com que notícias e fofocas se propagam na internet — e os lucros que essa difusão garante a empresas jornalísticas ou a pessoas com canais próprios. Entre as possibilidades de ganhar dinheiro e a ética, frequentemente acontecem barbaridades como esta que atingiu Klara Castanho.
A frase
"Ele abriu a porta, estendeu a mão e disse: 'Fizeram com você uma baita sacanagem'. E acrescentou que fui ingênuo ao fazer o comentário num grupo de WhatsApp."
Chico Pinheiro contando a reação do diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, após o vazamento de um áudio do apresentador em defesa de Lula, em 2018
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