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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Documentário sobre a Vaza Jato deixa lacunas sobre o trabalho da imprensa

Leandro Demori (de costas), do The Intercept, Carla Jimenez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, do El País, em "Amigo Secreto" - Divulgação/Amigo Secreto
Leandro Demori (de costas), do The Intercept, Carla Jimenez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, do El País, em "Amigo Secreto" Imagem: Divulgação/Amigo Secreto

Colunista do UOL

17/06/2022 07h01

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Como todo bom documentário, "Amigo Secreto", de Maria Augusta Ramos, defende alguns pontos de vista e oferece várias camadas de leitura. O tema principal é mostrar o impacto do que ficou conhecido como "Vaza Jato", o vazamento de mensagens trocadas entre integrantes da operação Lava Jato, pelo site The Intercept, a partir de 9 de junho de 2019.

Mas também é um filme sobre o ex-presidente Lula, e a sua volta por cima após a condenação e prisão durante a operação Lavo Jato, e os seus embates com o ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol.

É, ainda, um documentário sobre o chamado "ativismo judicial", com depoimentos de vários criminalistas e juristas, que acusam Moro e Dallagnol de extrapolarem suas funções durante a Lava Jato.

O ponto alto do filme, patrocinado pelo grupo Prerrogativas, formado por advogados que apoiam Lula, é o depoimento do ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar sobre as delações premiadas da Lava Jato. Ele afirma que foi pressionado para comprometer o ex-presidente Lula em seu acordo de colaboração e revelou que os procuradores não tinham interesse sobre denúncias que atingissem outros políticos, como Aécio Neves.

E "Amigo Secreto" documenta também como parte da mídia acompanhou a Vaza Jato. O filme segue quatro jornalistas: Leandro Demori, então do The Intercept Brasil, versão brasileira do site criado pelo americano Glenn Greenwald, e Carla Jimenez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, do El País Brasil, versão brasileira do jornal espanhol.

Há muitas críticas a fazer sobre a forma como a imprensa cobriu a Operação Lava Jato, mas o filme não vai além de uma observação que se tornou lugar comum, sobre a pouca disposição de investigar, contrapor e contextualizar as informações passadas por procuradores e juízes do caso.

O filme também não explora um dos aspectos mais originais da cobertura da Vazo Jato, que foi a parceria feita pelo Intercept com outros veículos. Segundo levantamento do próprio site, das 111 matérias sobre o assunto, 43 foram publicadas no Intercept e as demais foram fruto de apuração e pesquisa do UOL, Folha, Veja, El Pais, BuzzFeed News, Agência Pública e pelo jornalista Reinaldo Azevedo (Band/UOL).

A parceria ajudou não apenas a desafogar o Intercept, dado o volume de informações que eles obtiveram, mas também reforçou a credibilidade do material.

Por fim, o filme apenas menciona, num letreiro, ao final, que o El Pais Brasil foi fechado no final de 2021. Para quem não sabia, é um choque acompanhar o trabalho dos profissionais do jornal ao longo do documentário e não ver nenhuma tentativa de explicar por que a empresa espanhola decidiu encerrar o investimento no país.

Abaixo, o trailer do filme: