Raquel Landim

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Opinião

Governo tentou corrigir rota com veto das 'saidinhas', mas era tarde

Em fevereiro deste ano, o PT contrariou uma bandeira histórica do partido e liberou a bancada no Senado para votar o projeto do fim das "saidinhas", de autoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A vitória da oposição foi acachapante: 62 dois votos favoráveis, 1 abstenção e apenas dois votos contrários, dos senadores Cid Gomes (PSB-CE) e Rogerio Carvalho (PT-RJ).

Naquele dia, os senadores abriram caminho para o fim das saídas temporárias dos presídios de detentos em regime semiaberto durante feriados e ocasiões familiares importantes. Estavam pressionados pela opinião pública, acossada pela sensação de impunidade e pelas notícias de crimes cometidos nas "saidinhas". Contrariavam ainda a recomendação dos especialistas em segurança pública, que advogam pela ressocialização dos presos.

O governo lavou as mãos na votação. Preferiu priorizar as pautas econômicas e abandonar as chamadas pautas ideológicas. Na Câmara dos Deputados, para onde o projeto voltou em março, nova derrota esmagadora: 311 votos favoráveis e apenas 98 contrários. De novo, pouquíssimo empenho da articulação política do governo diante de uma derrota já certa.

Pressionado pela esquerda que despertava para o tamanho do problema, Lula resolve corrigir o rumo. Ignora os conselhos do senador Jacques Wagner (PT-BA) de que não adiantava vetar o projeto porque a derrota era certa no Congresso. Ainda recém-empossado no cargo, mas com um histórico de atuação em defesa dos direitos humanos, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandoswki, tenta construir um veto parcial.

Só aí a articulação política do governo acorda para o problema e sai em busca dos mais diversos apoios na sociedade, incluindo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Faz um esforço até mesmo para construir uma ponte com os evangélicos. Tudo inútil. É tarde. A derrubada do veto, que ocorreu nesta terça-feira (28), também por um placar amplo, ficou dentro do previsto.

Para um experiente operador político da cúpula da Câmara, o governo Lula deveria saber que estava apenas se posicionando ideologicamente ao tentar manter o veto do presidente, porque a articulação tem que ser feita antes de uma votação acontecer, e não depois dela.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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