Raquel Landim

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Opinião

Contra Tabata, Marçal repete Bolsonaro e usa misoginia para engajar na rede

Os ataques de Pablo Marçal (PRTB) a Tabata Amaral (PSB) parecem não fazer nenhum sentido do ponto de vista eleitoral. Embora os dois apareçam próximos nas pesquisas no segundo pelotão de candidatos à Prefeitura de São Paulo e queiram chegar ao segundo turno, não disputam o mesmo eleitor.

Marçal tenta crescer no campo da direita, portanto, quer avançar no terreno de Ricardo Nunes (MDB) junto ao eleitor bolsonarista preocupado com segurança pública. Tabata é de centro-esquerda e tem apelo num público que procura uma opção contra a polarização entre Lula e Bolsonaro e, em teoria, tira votos de Guilherme Boulos (PSOL). Pode até haver alguma intersecção de votos, mas é pequena.

Nos últimos dias, no entanto, Marçal vem perseguindo a adversária do PSB com provocações misóginas. Primeiro, ele disse que ela não podia ser prefeita porque nunca tinha sido casada. Depois, a acusou de estudar ao invés de cuidar do pai, que, alcoólatra, se suicidou.

Além de reforçar os estereótipos de que a mulher precisa de um homem para ser capaz e de que deve abrir mão de sua educação para cuidar da família, Marçal também mente, porque a menina da periferia ainda não tinha realizado o sonho de estudar em Harvard quando o pai se matou. A deputada rebateu e o chamou de covarde e nojento.

O comportamento de Marçal não à toa lembra o ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem o candidato já buscou apoio. Bolsonaro é pródigo em ataques misóginos, desde a época de deputado, quando disse à colega Maria do Rosário (PT) que "não a estuprava porque ela não merecia", até quando, já presidente, afirmou que a jornalista Patrícia Campos Mello "queria dar o furo".

A campanha eleitoral paulista está virando um vale-tudo e, nesse clima, a misoginia também gera engajamento nas redes. Na ânsia para se destacar e se tornar ainda mais conhecido, Marçal ataca a candidata para gerar cliques, viralizar, repercutir. A misoginia é assunto, seja por revolta ou por concordância. Enquanto escrevo esta coluna, a resposta de Tabata ao candidato do PRTB é a matéria mais lida do UOL.

Os ataques também podem fazer parte de um jogo ainda mais complicado desse tabuleiro eleitoral. Se Tabata desidratar na corrida eleitoral, quem sai ganhando é Boulos. E as pesquisas mostram que Boulos derrota Marçal no segundo turno, mas perde para Nunes. Marçal também tem poucas chances de vencer caso chegue à segunda etapa da corrida. Mas, se tiver, quer enfrentar o candidato de Lula.

Marçal, no entanto, deveria ficar mais atento ao que aconteceu com Bolsonaro. A misoginia do ex-presidente, seu negacionismo com a vacina (que mulheres e mães não toleraram), a falta de políticas voltadas para o público feminino, custaram caro. O eleitorado feminino nunca engoliu nada disso e deu vantagem a Lula.

Os políticos, vira e mexe, esquecem que somos a maior parte dos eleitores do país.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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