Câmara dos Deputados só pune assassinos; corruptos e golpistas escapam
Tudo indica que o deputado Chiquinho Brazão vai ser cassado e terá o mesmo destino de Flordelis e de Hildebrando Paschoal.
O que eles têm em comum? Envolvimento em crime de assassinato.
Brazão é acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco, Paschoal ordenava a execução de seus inimigos com uma motoserra, Flordelis planejou a morte do marido pastor.
O Conselho de Ética da Câmara atingiu um nível de corporativismo em que praticamente só assassinos têm seu mandato cassado e acabam expulsos da Casa do povo por iniciativa do colegiado.
Infrações como quebra de decoro parlamentar e crimes graves como corrupção e ataques à democracia sequer são avaliados pelo órgão, protegidos pela direita e pela esquerda.
O caso mais recente é o do deputado André Janones (Avante), gravado acertando uma "rachadinha" da verba parlamentar. Ele só se safou graças a um malabarismo do relator, o deputado Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo.
Mas está longe de ser o único. Os exemplos abundam. Abilio Brunini (PL), André Fernandes (PL), Silvia Waiãpi (PL) e Clarissa Tércio (PP) incentivaram os ataques ao 8 de janeiro e ficou por isso mesmo. O presidente da Câmara, Arthur Lira, não levou o assunto em frente.
Waiãpi acabou cassada recentemente pela Justiça Eleitoral do Acre e por outro motivo. Utilizar dinheiro público do fundo partidário para fazer uma harmonização facial. O caso ainda não chegou no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e por isso ela segue na Câmara.
Deltan Dallagnol também perdeu seu mandato após decisão do TSE por, conforme o tribunal, ter cometido fraude contra a Lei da Ficha Limpa. A Câmara só referendou o que o tribunal já havia decidido.
Alguém vai se lembrar que lá nos idos do mensalão, nos anos 2000, a Câmara cassou Roberto Jefferson, Pedro Correa e José Dirceu, enquanto a Lava Jato custou o mandato de Eduardo Cunha.
Só que foram escândalos de grandes proporções que só confirmam a regra: o sistema expurga alguns dos seus, dá uma satisfação à opinião pública, abre espaço para um suplente e segue.
"O sistema se autoprotege num corporativismo muito grande. Os deputados só cassam um dos seus quando a Justiça já vai condenar. Não tem ônus político", disse à coluna Bruno Carazza, professor associado da Fundação Dom Cabral.
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