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Reinaldo Azevedo

Como Celso justificaria a patifaria do PowerPoint? Liberdade de expressão?

Luiz Fux, autor de uma das três liminares em favor de Dallagnol. Como esquecer o "In Fux we trust"? - Nelson Jr./SCO/STF
Luiz Fux, autor de uma das três liminares em favor de Dallagnol. Como esquecer o "In Fux we trust"? Imagem: Nelson Jr./SCO/STF

Colunista do UOL

18/08/2020 08h12Atualizada em 18/08/2020 11h10

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Deltan Dallagnol já havia sido beneficiado por uma liminar concedida pelo ministro Luiz Fux tornando sem efeito uma advertência que o procurador havia recebido do Conselho Nacional do Ministério Público por falha disciplinar. A alegação de Dallagnol é que, por ocasião da punição levíssima então aplicada, a prescrição já havia se dado. E, também nesse caso, argumenta o coordenador da força-tarefa, trata-se de exercício da tal "liberdade de expressão".

Fux, que sempre concorda com a Lava Jato, concordou também dessa vez, para surpresa de ninguém.

Afinal, como esquecer as palavras imortais de Sergio Moro, reveladas em reportagem publicada por este blog, em parceria com The Intercept Brasil? "In Fux we trust"?

POWERPOINT
Há uma outra representação no Conselho, apresentada pela defesa de Lula. Diz respeito à pantomima do PowerPoint. Como sabem, no dia em que Dallagnol entregou a denúncia que acabou levando o ex-presidente à cadeia, ele organizou um show midiático para vender o petista como o chefe de uma grande organização criminosa.

Ainda que fosse, aquela estupidez nada tinha a ver com o conteúdo da denúncia. Mas serviu para o fuzilamento moral do acusado. Conversas publicadas pela Vaza Jato evidenciam que Dallagnol preparou o showzinho — com o beneplácito de Sérgio Moro — de caso pensado porque a força-tarefa tinha dúvidas sobre a higidez da denúncia apresentada.

Era uma dúvida fundada. Como se viu, Moro condenou Lula sem provas. Na verdade, o ex-presidente foi sentenciado pelo PowerPoint. O próprio então juiz e hoje pré-candidato à Presidência, depois de ter servido a Jair Bolsonaro, admitiu, em embargos de declaração, inexistir vínculo entre o tal tríplex de Guarujá e os contratos da OAS com a Petrobras.

Se não havia, nem juiz da causa ele era.

Mas com isso também condescenderam ministros do Supremo.

Como Celso de Mello justificaria a patifaria do PorwePoint?

Suponho que, à derradeira, ele poderia dizer: "Ah, isso é só liberdade de expressão".

E depois redigiria umas 50 páginas de copia/cola, cheias de citações, com grifos, negritos e itálicos para demonstrar que é um homem capaz de emprestar ênfase ao pensamento.

A mim me bastaria que seguisse o que está na Constituição, no Código de Ética do Ministério Público e na Lei Complementar 75.

Pior: ele deve achar que está a salvar a República. Não! É assim que ela caiu no colo de Bolsonaro. É sem o devido processo legal que pode acabar nas mãos de outro aventureiro.