Ou havia lobista ou havia mentiroso no governo. O lobby é falso. Então...
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Como o ministro da Economia, Paulo Guedes, não sabe o que fazer ou que rumo tomar, então ele ataca. Ao participar de audiência pública no Congresso, chamou a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) de "casa de lobby" e disse que ela financia um ministro gastador. Referia-se a Rogério Marinho, titular do Desenvolvimento Regional. Nas suas palavras:
"A Febraban é uma casa de lobby, muito honrada, muito justo o lobby, mas tem que estar escrito na testa 'lobby bancário', que é para todo mundo entender do que se trata. Inclusive, financiando estudos que não têm nada a ver com a atividade de defesa das transações bancárias. Financiando ministro gastador para ver se fura o teto, para ver se derruba o outro lado".
Afinal de contas, ele falava sobre o quê? Reportagem do UOL teve acesso ao estudo a que se refere Guedes. Informa o repórter Antonio Temóteo:
"O documento obtido pela reportagem cita que as propostas garantirão segurança jurídica, com sugestões de mudanças legais para investimento privado. O estudo será feito pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a partir de um acordo de cooperação técnica com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A ideia é criar um plano de recuperação econômica após a pandemia do coronavírus. O estudo está previsto para ser concluído em até dois anos."
Alguém percebeu algo de ruim no que leu até agora? Acho que não. E vai ficar melhor. Leiam mais:
"O acordo de cooperação técnica firmado entre o MDR e o Pnud prevê que o estudo não será custeado com recursos públicos. Com isso, a Febraban e entidades do Sistema S bancarão as despesas, estimadas em R$ 20 milhões."
Em nenhum momento se fala em furar o teto de gastos. O objetivo é precisamente outro: mobilizar investimentos da iniciativa privada. Afirma o documento:
"Devem ser desenhadas ações de curto, médio e longo prazos, com indicação de novos modelos de negócios que abram espaço para investimentos públicos e privados com foco na redução das desigualdades regionais. A estratégia também permitirá o financiamento privado apoiado por mudanças legais e infralegais que tragam segurança legal e institucional, com o objetivo de atendimento à política liberal adotada pelo governo federal."
Por que Guedes está tão zangado com Marinho nesse caso? Só a sua inação, a sua incapacidade de coordenar uma equipe tão grande e a sua frustração explicam o chilique. Então vamos pela ordem;
- o acordo é firmado com um órgão da ONU;
- o Ministério do Desenvolvimento Regional fez esse acordo de cooperação técnica apenas;
- o que se quer é estimular o capital privado nesses projetos;
- uma das propostas está ligada a obras no semiárido nordestino a partir da concessão de áreas para irrigação.
Goste-se ou não de Marinho, é evidente que isso não faz do ministro uma marionete do lobby da Febraban, que, segundo Guedes, estaria atuando fora da sua área. Alguém aí enxerga algum de mal em que entes privados e suas respectivas entidades de classe banquem estudos que busquem novos modelos de financiamento de obras que não dependam de recursos públicos — aqueles que já não existem hoje?
Com a devida vênia, Guedes está irritado é com a própria paralisia e com a ineficácia de seu jeito destrambelhado de fazer as coisas. Então resolveu disparar contra o desafeto. Afirmei no programa O É da Coisa, na BandNews FM, que o ministro da Economia havia deixado o governo numa situação muito ruim: ou este abriga um lobista ou abriga um mentiroso — eventualmente as duas coisas.
Como se nota, a história de que a Febraban faz lobby para financiar um ministro gastador, fura-teto, é lorota. Isso é conversa de quem não faz, mas também não deixa que façam.
O ministro da Economia estava furioso porque o tal decreto que colocava as Unidades Básicas de Saúde no escopo das parcerias público-privadas teve de ser retirado por Bolsonaro. Houve uma grita generalizada contra o texto, e, como ficou evidente, o próprio ministro não conseguiu explicar o que queria.
A verdade é que o tempo de Guedes no governo vai se esgotando. Seu repertório, como já afirmei aqui tantas vezes, é velho. Estúpido foi fazer um decreto envolvendo a rede primária de entendimento à Saúde sem falar com ninguém e sem dar explicações. Essa inciativa de Marinho, que ele atacou com ferocidade, deveria ser aplaudida.
Mas a sua arrogância incompetente não deixa.