Parece que governo passa o tempo comendo alfafa, lambendo sal e mascando
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O governo federal gastou em 2020 R$ 1,8 bilhão com alimentação. Bem, ninguém há de duvidar que é muito dinheiro em si. Mas aí, claro, é preciso considerar que essa grana atende a toda a estrutura do governo. Para que se conheça o significado preciso desse gasto, é necessário saber agora quanto cada ministério gastou, como, a quem atendeu, em quais eventos. Alguns desembolsos chamam especialmente atenção: sal, alfafa e chiclete.
De saída, uma coisa parece, por si, moralmente escandalosa: num período de severa contenção de gastos, houve um aumento de 20% em relação ao ano anterior. E 2020, como se sabe, foi marcado pela pandemia, que ainda está aí, matando brasileiros aos milhares. Há de se supor que houve um recuo na rotina de almoços e jantares institucionais. O governo Bolsonaro deve uma explicação, por óbvio. O PSOL entrou com uma representação para que a PGR determine a abertura de investigação.
Há coisas que são, por si, intrigantes. Vamos ver os gastos com sal. No demonstrativo oficial, foram consumidos em 2020 R$ 18.530.214,29 com o produto. Você pode adquirir um quilo em supermercados e aplicativos que fazem entrega em casa por R$ 2,15 — preço mais barato que encontrei. Como o governo federal compra um montão, suponho que possa conseguir condições mais vantajosas. Mas fiquemos nesse valor.
Com o dinheiro gasto, dá para comprar 8.618.704 quilos de sal — sim, estamos falando de 8.614 toneladas por ano. Não é possível. Algum erro deve haver aí. O gasto médio diário de sal do governo federal seria de 23.601 quilos. Vocês podem imaginar o consumo de 23,6 toneladas de sal por dia? Lá em Dois Córregos, a gente usa o produto para chamar cabeças de gado. Isso precisa ser explicado, não?
Também é intrigante que exista no relatório de gastos o valor de R$ 1.042.974,22 destinado à compra de alfafa. Deve ser o tal broto, que muita gente gosta de botar em salada. Num país que está na pindaíba, o governo federal consome, por dia, na média, R$ 2.857 com... alfafa.
Você acha que o governo deve comprar chiclete para os seus servidores ou para visitantes? Bolsonaro pensa que sim. Com esse item, foram consumidos R$ 2.203.681,89. Acabo de encontrar aqui quatro tabletes de Trident, por exemplo, por R$ 1,99. Com esse dinheiro, compram-se 4.429.509 tabletes — média de consumo diário de 12.135 tabletes.
Parece que este é um governo que passa os dias comendo alfafa, lambendo o sal e mascando.
Alguma explicação deve haver. A gente sabe que os Bolsonaros não lidavam bem com dinheiro público nem quando valores muito menores entravam na conta, como o salário de servidores da Assembleia Legislativa do Rio, por exemplo.