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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na Folha: Putin é um criminoso indesculpável, mas expôs nudez da verdade

Vladimir Putin, presidente da Rússia. Seus atos são inaceitáveis, mas têm de ser analisados no contexto de expansão da Otan. Não é invencionice de "putinistas" - Reuters TV-27.fev.22/Reuters
Vladimir Putin, presidente da Rússia. Seus atos são inaceitáveis, mas têm de ser analisados no contexto de expansão da Otan. Não é invencionice de "putinistas" Imagem: Reuters TV-27.fev.22/Reuters

Colunista do UOL

04/03/2022 07h44

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Leiam trechos da minha coluna na Folha.
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Vladimir Putin violou a Carta das Nações Unidas e o direito internacional. Qualquer que seja o desdobramento de sua ação na Ucrânia, já é o grande derrotado. A Rússia é uma ditadura mitigada. Pós-guerra e sanções, ele só permanecerá no poder com tirania explícita. Cometeu erros, mas contribuiu, apelando a Eça de Queirós, para retirar do tal Ocidente o manto diáfano da fantasia que cobria a nudez forte da verdade. Potências não podem --ou não deveriam-- romper as regras do direito internacional, pretextando ou não a intervenção humanitária. Quantas vezes, no entanto, também os EUA, com ou sem Otan, o fizeram e o farão? No realismo de um Carl Schmitt (1888-1985), por exemplo, americanos e russos agiram em nome do que importa: a segurança, não os direitos. No plano intelectual, lutemos contra a herança de Thomas Hobbes, resgatando como inspiração moral a Escola Ibérica da Paz, nunca estudada por aqui. O realismo cru não se ocupa de limitar o poder de Estado, mas de justificá-lo. A segurança como um bem que exclui os direitos abre a vereda para a terra dos mortos.

A parceria entre a Otan e os "primaveristas" da Líbia e da Síria, por exemplo, inventou a quimera do "jihadismo da liberdade", que fez da África um ninhal de terroristas e deu à luz o Estado Islâmico. A máquina de guerra dos EUA, diga-se, está sempre ocupada em duas coisas: em combater terroristas e em fabricá-los. O vexame no Afeganistão, que Joe Biden tenta agora compensar, é eloquente. A propósito: quem vai um dia recolher as armas distribuídas às milícias ucranianas, às quais poetastros dedicam panegíricos canhestros? Mais de uma vez os EUA e a Otan mandaram a carta da ONU às favas e atacaram países soberanos. Quantos males pode haver na Pandora aberta de Kosovo?"Isso justifica Putin?" Não! Mas quem define quando a violação ao direito internacional deve ser punida ou aplaudida? Infelizmente, é o tal "realismo cru". Quantas crianças a Arábia Saudita, aliada dos EUA, pode matar no Iêmen? Temos de rejeitar o pretexto da segurança como fundamento de invasões. Putin não me seduz. EUA não me enganam. São diferentes, mas se combinam.
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