Reinaldo Azevedo

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Opinião

Lula lança novo PAC; ausências mostram direita e extremistas no labirinto

Lula vai lançar nesta sexta, daqui a pouco, o novo PAC. Um evento no Theatro Municipal do Rio vai reunir governadores, ministros, parlamentares, empresários, representantes da sociedade civil etc. São esperadas mais de 800 pessoas. O presidente vai anunciar R$ 60 bilhões anuais em investimentos diretos, praticamente o total do que dispõe o Orçamento para esse fim. Serão ainda incluídos recursos das estatais, financiamento dos bancos públicos e do setor privado, por meio de concessões e parcerias público-privadas. Ao todo, estima-se uma mobilização da ordem de R$ 1 trilhão em quatro anos. Os chamados eixos estruturantes, a lista é longa, já foram definidos. Pesquisem a respeito. Este texto está voltado para outro aspecto: alguns governadores com ambições em 2026 ou que se identificam com Jair Bolsonaro já anunciaram que não vão comparecer. Será isso tão esperto assim?

Embora Claudio Castro (PL), do Rio, não tenha gostado do que disse Lula em evento nesta quinta, na capital fluminense, sobre a atuação da PM — que matou, no domingo, Thiago Menezes Flausino, de 13 anos —, creio que estará presente ao encontro de que é, para todos os efeitos, o anfitrião. E uma nota à margem: o petista não incriminou nem a Polícia como instituição nem o governador, mas deixou claro que o episódio é inaceitável. O petista, mostrei no programa "O É da Coisa", paparicou Castro e tentou protegê-lo de vaias do público. Sobre o garoto, esperavam que fizesse o quê? "Quem cala sobre o teu corpo consente na tua morte", canta Milton Nascimento, em música em parceria com Ronaldo Bastos. Chama-se, a propósito, "Menino". Adiante.

OS AUSENTES
Informa O Globo que Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, não estará presente. Será representado por Felício Ramuth (PSD), vice-governador. Também vão se ausentar Jorginho Melo (PL), de Santa Catarina, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná. Enviarão em seu lugar, respectivamente, o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Jerry Comper, e o secretário-chefe da Casa Civil, João Carlos Ortega. Até esta quinta, Eduardo Leite (PSDB) constava da lista de confirmados. Mas o próprio governador do Rio Grande do Sul não anunciou que vai nem disse quem representará seu Estado. Também faltarão ao encontro Fabio Mitidieri (PSD), de Sergipe, e Mauro Mendes (União), de Mato Grosso. Nesses dois casos, consta, não se trata de uma sinalização de natureza política. Dos 27 governadores, pois, até agora, 21 devem aparecer.

Entre estes, estava Romeu Zema (Novo), de Minas. Enquanto escrevo, nesta madrugada, não há evidência de que tenha desistido de comparecer. Todos serão, certamente, educados. Mas dá para supor que Zema não esteja entre os mais apreciados junto a governadores do Norte e Nordeste. Em entrevista ao Estadão, anunciou que o consórcio que une as regiões Sul e Sudeste buscava, sim, confrontar o Norte e o Nordeste e comparou essas regiões a "vaquinhas pouco produtivas". Se estava se preparando para ser "o líder conservador ou de direita" que pretende se opor aos progressistas em 2026, parece óbvio que queimou a largada.

Só para lembrar: o PAC não é um "dinheiro novo", que cai do céu. São recursos mobilizáveis do Orçamento e daquelas outras fontes já citadas para financiar um grupo de obras consideradas essenciais para o desenvolvimento e o crescimento do país. Fala-se de algo em torno de 2.000 empreendimentos, 300 deles definidos pelos governadores, e os outros, pelo governo federal.

CONSIDERAÇÕES
O antipetismo fanático, e a sua expressão mais virulenta é o bolsonarismo, certamente aplaudirá a decisão dos governadores que se negarem a comparecer ao evento por motivação política e ideológica, ainda que mandem representantes. Para todos os efeitos, não aparecerão na fotografia.

Alguns dos ausentes têm óbvias pretensões de sentar na cadeira hoje ocupada por Lula. Tarcísio e Leite estão inequivocamente nessa categoria, ainda que o governador de São Paulo tenha dito o contrário em conversa no podcast Flow, notando-se à margem que sua prosa é a de pré-candidato, muito especialmente quando se dedica a salamaleques ao inelegível Bolsonaro. Na sua conta, por enquanto, o benefício de se mostrar um fiel aliado do enroscado ex-presidente ainda deve ser maior do que o prejuízo. Isso vai até quando? O cerco ao golpista se fecha.

Tarcísio, já notei no programa "O É da Coisa", tem tentado ser o opositor por excelência. A questão é saber se tem feito as boas escolhas fora da bolha. Recusa dos livros do MEC, promessa de deixar o Republicanos caso o partido indique um ministro, discurso com um certo sotaque policialesco... Tudo isso, é certo, rende pontos junto às milícias digitais bolsonarianas. A questão é saber se isso faz um líder nacional.

Como construiu a imagem de um tocador de obras — ainda que, por ora, isso seja mais fama do que proveito —, parece que Tarcísio escolheu não prestigiar um evento de que Lula, obviamente, será o protagonista justamente na área em que o governador de São Paulo construiu a sua fortuna crítica, ainda que esta esteja por ser demonstrada. É claro que ele sabe que Bolsonaro estará inelegível em 2026, talvez preso, e resolveu atrair a massa de fanáticos. Um problema: ela está em declínio. Um fato histórico: o próprio "Capitão" não conseguiu vencer. Uma evidência: Lula tem cometido mais acertos do que erros. Uma perspectiva: tudo caminha para que o Brasil de 2026 esteja muito melhor do que o de 2022.

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Ficar preso à bolha do bolsonarismo parece mesmo ser uma boa ideia?

E LEITE?
Ao, digamos, reagir à reação às barbaridades ditas por Zema, o governador do Rio Grande do Sul tentou, num primeiro momento, pôr panos quentes e, ainda que com mais modos, acabou endossando a fala desastrada. Depois foi preciso se explicar melhor. Liderança de um partido, o PSDB, que, por ora ao menos, não parece em condições de liderar um projeto de alcance nacional, é visível que Leite parece ter um repertório maior para se opor a Lula do que para criticar Bolsonaro. E isso, dadas as circunstâncias, o coloca numa espécie de limbo -- e eu escrevi "limbo" mesmo -- no território da direita.

Sobre ele, não há a suspeita de que possa ter alguma tentação esquerdista, mas o governador gaúcho sabe que jamais será um "deles", os mínions. É civilizado e educado demais para representar as forças que são hoje hegemônicas na direita. Até Tarcísio hesita às vezes, embora esteja num "tour de force". Leite, afinal, quer ser uma alternativa de centro ou pretende um dia ser adotado pela extrema-direita que Tarcísio ainda adula? Um centrista não teria dificuldade nenhuma em comparecer ao encontro do PAC. Ainda que, em economia, o governador do Rio Grande do Sul possa estar entre as lideranças mais conservadoras do país, o que aqueles bravos devotos do Imbroxável cobram é baba reacionária.

Ratinho Jr., e não escrevo em tom de demérito — trata-se apenas de um fato —, é hoje lembrado mais como uma espécie de "Regra Três", caso Tarcísio não dispute a Presidência em 2026, do que como alternativa real de poder.

CONCLUO
As respectivas ausências ao evento do PAC de nomes que pretendem buscar um lugar no futuro, lá em 2026 -- para enfrentar o líder petista ou o candidato que ele apoiar -- não evidenciam, obviamente, um problema do atual mandatário. Quem está com dificuldades, convenham, é a extrema-direita e direitistas associados. Por enquanto, a sua estratégia consiste em adular os radicais de Bolsonaro e em se mostrar um anti-Lula. Mesmo quando este vai lançar um programa para acelerar o crescimento, que abriga ao menos 300 obras indicadas pelos próprios governadores. Inclusive os ausentes. Será isso tão esperto assim?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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