Reinaldo Azevedo

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Opinião

Braga Netto e Bolsonaro punidos por 7/9 do periquito e do trator. Tome Pix!

Pois é... Toda a gritaria foi inútil. O general Braga Netto, vice de Jair Bolsonaro na disputa à Presidência no ano passado — foi ainda seu ex-ministro da Casa Civil e da Defesa —, está inelegível por oito anos e não poderá concorrer à Prefeitura do Rio no ano que vem. Ele era um dos nomes cotados no PL para a missão. A dupla foi condenada por 5 a 2, no TSE, por abuso de poder político e de poder econômico nos eventos do Bicentenário da Independência, no ano passado. Transcrevo, mais adiante, trechos do voto de Alexandre de Moraes, presidente do tribunal.

Inicialmente, o relator, Benedito Gonçalves, havia se limitado a aplicar uma multa ao militar, votando pela inelegibilidade de Bolsonaro apenas. Antes da proclamação do resultado, pediu a palavra e afirmou que fora convencido, ao longo do julgamento, de que o vice da chapa deveria sofrer a mesma sanção do titular. O ex-presidente terá ainda de pagar uma multa de R$ 425.640, e o outro, de R$ 212.820. Os dois vão ter de competir de novo com a Rainha Delícia na chuva de Pix. Nunes Marques e Raul Araújo divergiram, claro!, embora o primeiro tenha defendido a aplicação de uma multa ao "capitão". Além de Gonçalves e Moraes, votaram pela condenação Cármen Lúcia, Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares.

Passou a circular na imprensa a conversa de que "generais" estariam dizendo em "off" que a eventual punição a um dos seus seria um "desconforto" e um "constrangimento". É mesmo? Não será um general a cumprir a pena, mas um político que concorreu à Vice-Presidência. Ponto. A propósito, quero aqui declarar mais uma vez: sempre que um militar da ativa quiser me dar uma boa notícia, em consonância com a Constituição, publico em "on", com nome e sobrenome. Não ouço fardado em "off" para mandar recados às instituições ou fazer mexericos. Isso é coisa de vivandeiras.

O VOTO DE MORAES E USO DAS FORÇAS ARMADAS
O ministro Alexandre de Moraes deu início a seu voto rememorando duas frases que dissera num julgamento em 2021:
1: "A Justiça pode ser cega, mas ela não é tola";
2: "A Justiça eleitoral não adotará a prática do avestruz mediante os ilícitos, as condutas vedadas, o abuso, a desinformação".

O avestruz, claro!, não faz o que se diz, ou já teria sido extinto. Mas vale a metáfora. O TSE não vai enfiar a cabeça no buraco. Moraes foi devastador no voto. Abaixo, ele fala dos acontecimentos no Rio:
"Houve não uma confusão; houve uma verdadeira fusão entre o ato oficial e o ato eleitoral, e o abuso é claro.(...) [Houve uma] alteração absurda, utilizando-se da prerrogativa de comandante-em-chefe das Forças Armadas... Simplesmente não houve desfile tradicional porque o que se adequava mais à política eleitoral, à campanha do candidato à reeleição, era um desfile em Copacabana, para encerrar no Forte de Copacabana (...)

O tradicional desfile do Rio de Janeiro de 7 de Setembro simplesmente deixou de existir. Não houve desfile porque o candidato à reeleição não quis que fosse o tradicional; queria simplesmente que fosse um desfile que levasse, ao final, ao Forte de Copacabana, e lá estava montado o seu aparato eleitoral.

Mas não foi só isso. Foi muito pior do que isso. Não houve desfile, mas houve chamariz para o seu eleitorado (...) Já [com Bolsonaro] se dirigindo ao palco, já totalmente o evento eleitoreiro, [houve] paraquedistas, tiros da Marinha, aviões da FAB passando... Ou seja: houve a lamentável e triste instrumentalização das Forças Armadas para uma candidatura a presidente e vice-presidente da República. (...) Isso já configuraria conduta vedada e abuso do poder político e econômico"

O VERDE-PERIQUITO E OS TRATORES
Ocorre que a coisa não parou por aí. O ministro lembrou que as ilegalidades tiveram início já em Brasília, antes de o então presidente se deslocar para o Rio:
"Ao lado dele [de Bolsonaro], uma figura, que durante toda a campanha, fez a apologia da candidatura dele: o empresário Luciano Hang, que, inclusive, por atos semelhantes, de abuso de poder, foi condenado à inelegibilidade por essa Corte no caso das eleições de Brusque (SC).

E aí já começou a confusão, que depois se tornou fusão, entre eventos cívico-militar e eleitoral. O eminente ministro Floriano [de Azevedo Marques] relembrou uma cena patética e triste paro o Brasil; uma cena que foi veiculada no mundo todo: o presidente [Bolsonaro] simplesmente afastando o presidente de Portugal [Marcelo Rebelo de Sousa] e chamando o seu cabo eleitoral, vestido com sua tradicional vestimenta verde-periquito. Vestido para fazer campanha (...).

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Isso continuou. Desceu da tribuna de honra e caminhou a pé até o trio elétrico custeado pelo movimento Brasil Verde e Amarelo, instalado na Alameda das Bandeiras. Aqui [está] o ofício do coordenador de apoio do Distrito Federal do movimento, Júlio Augusto Gomes Nunes, pedindo a resposta da Secretaria de Segurança Pública, dizendo que o evento seria no mesmo local e momento é [da comemoração oficial]. (...)

Não bastasse a primeira vergonha do verde-periquito, nós tivemos a segunda vergonha: desfile de tratores (...) para demonstrar o apoio — e todos sabem como houve um grande e lícito apoio — do agronegócio à candidatura (...) Novamente a confusão entre o eleitoral, aqui beirando o eleitoreiro, e o cívico-militar".

EXCLUSÃO
Moraes observou que os eventos do 7 de Setembro de Brasília e do Rio não foram pensados para o conjunto dos brasileiros, mas apenas para o eleitorado de Bolsonaro. Na verdade, foi organizado para afugentar quem não era da turma. Citou uma exortação do deputado Carlos Jordy (PL-RJ) aos ditos "patriotas":
"É a festa da Independência contra o comunismo, contra o socialismo, contra a praga petista, contra a praga vermelha, contra o aborto, contra a legalização das drogas, contra a ideologia de gênero e contra tudo aquilo que aterroriza as nossas famílias".

Voltando a falar do Rio, o ministro registra que, como Bolsonaro não conseguiria afastar as pessoas comuns do desfile tradicional, então ele o cancelou e acabou utilizando os militares como forças privadas. E deu destaque ao convite veiculado na campanha eleitoral do então candidato no rádio e na TV:
"Neste 7 de Setembro, convido as famílias brasileiras a irem às ruas para comemorar os 200 anos da nossa Independência. Pela manhã, estarei em Brasília; à tarde, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Compareça. A festa é nossa, do Brasil. É a nossa Bandeira verde e amarela. Presidente Bolsonaro vice Braga Netto".

Pois é... O trecho já indicava que a coisa não ficaria boa para o general.

BRAGA NETTO
Vamos ver como o ministro chega ao candidato a vice:
"No momento em que subiam ao palanque para fazer o comício, os aviões da FAB ainda cruzando o céu e soltando fumaça nas cores da Bandeira do Brasil. Esqueceram, ministro Benedito, de apertar o botão para sumir com todo o dinheiro público que estava sendo gasto com as Forças Armadas, servindo, lamentavelmente, naquele momento, e erroneamente a um candidato à sua própria reeleição. (...).

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Não podemos fazer a política do avestruz. Walter Souza Braga Netto foi o segundo no Comando Militar do Leste. Foi chefe da Casa Civil. Foi ministro da Defesa. Continuou como assessor especial da Presidência e um dos coordenadores da campanha. Participou, tanto em Brasília como no Rio de Janeiro [dos eventos] e se beneficiou com isso. (...)

Em entrevista dada no dia seguinte, há uma confissão [de Braga Netto] (...). Afirmou que o público presente no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília demonstrou a força que Bolsonaro teria nas urnas e também apostou em uma eventual vitória no primeiro turno. Falou sobre as pesquisas eleitorais, que estavam erradas, em fraude, e não citou nada em relação ao bicentenário (...). Não há dúvida de que aquela confusão, verdadeira fusão, entre o cívico-militar e o eleitoral e eleitoreiro continuava a dar dividendos à chapa, não só ao primeiro investigado [Bolsonaro], mas ao segundo [também], que dava entrevistas em relação a essa confusão, a esse grande evento eleitoral que ocorrera no dia anterior."

ENCERRO
Os bolsonaristas ainda não compreenderam que os movimentos de intimidação e a gritaria nas redes são inúteis. Todos responderão por seus feitos. Nas esferas eleitoral e penal. Ponto. Manda Pix, manda Pix...

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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