Reinaldo Azevedo

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Opinião

Quaest 1: Cresce a aprovação de Lula e do governo; direita cobra tiro no pé

Pesquisa Quaest/Genial divulgada há pouco indica uma melhora importante na popularidade do presidente Lula e do seu governo, embora o juízo que as pessoas façam sobre a economia não seja exatamente benevolente. A mudança se dá em praticamente todos os cortes e estratos sociais. O levantamento anterior era do começo de maio. Agora, os que aprovam o desempenho pessoal de Lula cresceram de 50% para 54%. Os que reprovam caíram de 47% para 43%. Em dois meses, uma diferença de 3 pontos em seu favor saltou para 11.

Os dados foram colhidos entre os dias 5 e 8. Foram ouvidas duas mil pessoas, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. Na sequência dos dias em que o presidente mais apanhou da imprensa em razão de seus embates com o Banco Central sobre a taxa de juros, o que contribuiu para uma elevação expressiva do dólar, a popularidade do presidente subiu. Não estou a estabelecer uma relação de causa e efeito. Quando menos, uma correlação há. Convém pensar. Até porque o levantamento também quis saber se Lula estava certo ou errado no seu embate com o BC. O colunismo decretou a derrota do presidente por, sei lá, 9 a 1. Entre os que tomaram conhecimento da querela, ele venceu com folga. Vamos ver.

APROVAÇÃO PESSOAL E CORTES
A aprovação do desempenho pessoal do presidente subiu de 62% para 69% entre os que recebem até dois mínimos: de 62% para 69%, e a reprovação caiu nove pontos: de 35% para 26%. Essa categoria representa 30% da amostra na Quaest. Na faixa de dois a cinco mínimos (44% do total), o índice positivo variou um ponto: de 49% para 50%, e o negativo dois para baixo: de 49% para 47%. Na categoria de quem recebe mais de cinco, diminuiu a diferença contra Lula: a reprovação caiu de 58% para 54%, e a aprovação oscilou de 40% para 42%.

A distância entre aprovação e reprovação segue sendo gigantesca no Nordeste (26% da amostra): aprovação foi de 68% para 69%, e a reprovação caiu de 31% para 28%. No Sudeste (42% dos entrevistados), volta a haver um empate, depois de duas jornadas negativas: a reprovação caiu de 55% para 48%, e a aprovação subiu de 42% para 48%. No Sul (15% do conjunto), a despeito da espetacular ajuda do governo federal ao Rio Grande do Sul, os que reprovam oscilaram de 52% para 54%, e os que aprovam caíram de 47% para 43%. No Centro-Oeste/Norte (17%), também uma movimentação significativa: a aprovação cresceu de 42% para 53%, e a reprovação caiu de 40% para 42%.

As mulheres seguem sendo mais sensíveis às qualidades de Lula do que os homens. Elas, que representam 52% da amostra, aprovam o desempenho pessoal do mandatário por 57% a 39% (antes, 54% a 44%). Entre os homens, a indisposição diminuiu significativamente: aprovação agora é de 50% a 47% — há dois meses, a reprovação estava numericamente à frente: 51% a 47%.

Os católicos (50% dos entrevistados) aprovam amplamente o desempenho pessoal de Lula: 60% a 37% (antes, 58% a 40%). Entre os evangélicos, a reprovação ainda é maior — 52% a 42% —, mas vem caindo: na pesquisa anterior o placar era 58% a 39% e já chegou a ser de 62% a 35%.

AVALIÇÃO DO GOVERNO
Mundo afora, a pesquisa que realmente conta é essa que se vê acima: aprova ou reprova. Numa disputa eleitoral, por exemplo, os votantes tendem a apostar na recondução ao cargo de alguém que aprovam -- ou o aposto se reprovam. Por aqui, dá-se excessiva importância ao tal "bom/ótimo; ruim/péssimo e regular". E se chama a isso de "avaliação do governo". A Quaest usa outra nomenclatura: positiva, negativa e regular. Os números são elucidativos. A avaliação positiva do governo também cresceu: de 33% para 36%, e a negativa caiu de 33% para 30%, mesmo número da regular, que estava em 31%.

Também aqui, os que recebem até dois mínimos fazem uma melhor apreciação do governo: a positiva bate a negativa por 48% a 18% (antes, 44% a 24%); a regular ficou em 30%. No grupo de dois a cinco mínimos, há um empate técnico: negativa. 33%; positiva e regular. 32% — na pesquisa anterior, 35% a 31%. Na faixa dos que recebem mais de cinco mínimos, a negativa ainda é maior: 40% a 27%, com 29% de regular. Há dois meses, 43%, 24% e 31%. Melhorou também.

Quando se consideram as regiões, repete-se o mesmo espírito da avaliação pessoal: no Nordeste, a positiva supera a negativa por 48% a 19% e 30% de regular — há dois meses, 48%, 21% e 30%. Estabilidade. No Sudeste, o "negativo" caiu de 39% para 34%, e o positivo subiu de 26% para 31%, com 33% de regular (antes, 32%). No Sul, a avaliação negativa caiu de 41% para 37%, e a positiva, de 34% para 29%, com a regular subindo de 25% para 32%. No Centro-Oeste/Norte, o índice negativo caiu de 33% para 31%, e o positivo cresceu de 30% para 34% — o regular ficou em 31%.

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Avaliam o governo como positivo 37% das mulheres, contra 25% que pensam o oposto; é regular para 33% — na pesquisa anterior,35%, 30% e 32%. Também nesse caso, diminuiu o mau humor dos homens: negativo, 36%; positivo, 34%; regular, 27% — há dois meses, 37%, 32% e 39%.

Cresceu o contentamento dos católicos coma gestão: 42% de avaliação positiva contra 27% de negativa; para 29%, é regular. No levantamento passado, 40%, 29% a 30%. Diminuiu o descontentamento dos evangélicos. Têm uma visão negativa 39% dos que responderam; é positiva para 26% e regular para 30% — antes, 42%, 23% e 32%.

OS MAIS POBRES
Tanto a avaliação do desempenho pessoal do governo como a da qualidade do governo tiveram uma sensível melhora. Os números evidenciam a diferença brutal de opinião entre os que ganham até dois mínimos (30% da amostra) e os que recebem mais de cinco (26%). No primeiro grupo, a aprovação da atuação do presidente bate a reprovação por 69% a 26%: 43 pontos de diferença. Há dois meses, era de 27 (62% a 35%). Na outra ponta a reprovação vence por 54% a 42%: 12 pontos negativos, mas eram 18 na pesquisa anterior. No grupo que compõe a maior parcela dos entrevistados, o de dois a cinco mínimos (44%), a aprovação abriu três pontos de vantagem: 50% a 47%. Há dois meses, havia um empate em 49%.

A escrita se repete com outros números, mas contando a mesma história quando se trata de avaliar o governo propriamente: a avaliação positiva da gestão tem 30 pontos a mais do que a negativa: 48% a 18%; há dois meses, a vantagem era de 20: 44% a 24%. Entre os mais ricos, há um saldo negativo de 13 pontos: a negativa (40%) bate a positiva (23%) por 13 pontos. Mas a diferença era de 19 há dois meses (43% a 24%). Entre os que recebem de dois a cinco mínimos, havia um saldo negativo para o governo de 10 pontos em fevereiro (39% a 29%). É de apenas um agora: 33% a 32%.

Assim, presidente e governo tiveram uma melhora em todos os estratos de renda, mas não é preciso ser muito bidu para perceber que os mais pobres constituem a maior base de apoio do presidente.

CONCLUO
Agora eu os convido a pensar no que andaram sugerindo a Lula alguns gênios de si mesmos em matéria de corte de gastos. Olhando a pesquisa, parece quase uma piada: boa parte das propostas atingiria em cheio justamente os mais pobres. Sim, é preciso cortar gastos, pensar no déficit etc. Se a direita, no entanto, quer ganhar eleições, que formule uma proposta e a exponha claramente à população. Não devem esperar que Lula se martirize por ela, não é mesmo?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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