Carolina Brígido

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Opinião

Violência política vira ponto cego da Justiça Eleitoral e assombra 2026

De todos os desafios - e não são poucos - da Justiça Eleitoral, a crescente onda de violência nas campanhas se transformou em uma espécie de ponto cego para as autoridades. O primeiro turno das eleições municipais deste ano escancarou a ineficiência de ferramentas para coibir a prática. A julgar pelo cenário atual, o fenômeno continuará ressoando até o segundo turno, marcado para o dia 27 - e, provavelmente, vai desaguar na eleição majoritária de 2026.

Ainda que a violência política assombre as eleições vindouras, a Justiça Eleitoral conseguiu equalizar outras práticas deletérias das campanhas. Por exemplo, o uso de dinheiro vivo e outros bens como tentativa de compra de votos pelos candidatos.

Quando se olha os números, a primeira impressão é de piora no quadro. Neste ano, a Polícia Federal apreendeu mais de R$ 20 milhões em espécie no período eleitoral, patamar recorde no país.

Em declaração à imprensa, a presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministra Cármen Lúcia, lamentou o fato. Mas ponderou que, antes desta eleição, não havia dados concretos sobre dinheiro ilícito nas campanhas. "Então, daqui para frente, nós vamos nos esmerar", anunciou.

As apreensões em massa foram fruto da criação de uma sala de situação integrada com representantes da Justiça Eleitoral, Segurança Pública, Ministério Público, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Corpo de Bombeiros. Na sala, telas de monitoramento apontam denúncia de práticas criminosas e ocorrências de prisões.

Outro setor que pareceu mais calmo em relação às eleições de 2018, 2020 e 2022 foi o das fake news. Em que pese a postagem de Pablo Marçal (PRTB) com informação falsa sobre o concorrente Guilherme Boulos (PSOL), as eleições não foram inundadas em fake news como as anteriores. O setor de checagem de informação falsas do TSE não recebeu denúncia relevante neste ano.

A expectativa de deep fake com base em inteligência artificial também não se concretizou. No início do ano, o TSE editou norma específica sobre o tema, na tentativa de coibir a prática pela raiz. O que não se sabia era que a agressão entre candidatos seria por meio de vias de fato, com destaque para a cadeirada de José Luiz Datena contra Marçal.

Frear a violência política será uma tarefa mais árdua para a Justiça Eleitoral. Mesmo porque uma parceria com órgãos de segurança talvez não seja suficiente para coibir a prática.

O advento Marçal mostrou que o comportamento violento de políticos em projeção atingiu patamar assustador. O que era operado no campo das fake news sobre urnas eletrônicas em 2018 saltou para a agressão física em 2024. Para 2026, a perspectiva não é das melhores.

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O laboratório lançado de violência política em 2024 deve ressoar em 2026. O ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não se conformou com a inelegibilidade e insiste na possibilidade de anistia, o que pode ser um elemento a mais nos embates eleitorais. Em dois anos, o presidente do TSE será Kassio Nunes Marques. Até lá, a Justiça Eleitoral vai precisar encontrar mecanismos para lidar com o fenômeno.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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