Reinaldo Azevedo

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Segurança máxima: Nunes foge de debate com Boulos, e Tarcísio assina a fuga

Que coisa, né?

Não tendo outro momento do dia ou da noite para falar com Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tinha de marcar um papinho com o alcaide justamente no horário em que haveria o debate promovido por UOL/Folha/RedeTV! entre o chamado "incumbente" e Guilherme Boulos, do PSOL. O evento estava previsto para as 10h30.

Nunes mandou dizer que não vai. E, como vocês devem supor, ele lamenta muito, é claro! Pediu a compreensão dos organizadores, do adversário e do público. E, poxa vida!, todos hão de compreender que o cancelamento busca o bem coletivo:
"Desde a tempestade de sexta-feira passada foram desmarcados diversos compromissos da campanha à reeleição, dando prioridade às urgências da Prefeitura. Estão em vista os cancelamentos de outras agendas eleitorais, por conta das mudanças climáticas previstas para sexta-feira".

Entendo. Nunes não pode comparecer porque estará empenhado em garantir o nosso bem. Tenho de conter uma furtiva lágrima.

O governador e o prefeito tiveram a quarta-feira inteira para tomar essa decisão, mas só o fizeram no começo desta madrugada, depois que os respectivos trackings dos oponentes estavam consolidados. Tanto Nunes como Boulos sabem que o apagão em São Paulo mexeu nos números, encurtando a distância entre os dois.

Na primeira pesquisa Datafolha, divulgada na quinta passada, com dados colhidos nos dias 8 e 9, o retrato feito pelo instituto indicava uma diferença de 22 pontos: 55% a 33% para o prefeito. Na Quaest de ontem, com entrevistas feitas entre os dias 13 e 15, depois da chuva, do vento e do apagão, a diferença era de 12 pontos: 45% a 33%. Não estou comparando os números dos dois levantamentos. Aponto que são fotografias bastante distintas. Nesta quinta, há um novo Datafolha.

A eleição ocorre daqui a dez dias. Os que lidam com campanhas eleitorais temem como ao demônio a chamada "onda dos últimos dias", especialmente quando existe um evento com força potencial para mudar tendência, ainda que pareça consolidada.

O evento existe, e os números estão se mexendo. Se tem poder de interferir para valer no resultado, bem, é o que se vai ver. Que Nunes, sua turma e o próprio Tarcísio — que também resolveu assinar a desculpa esfarrapada — estão com medo, bem, não preciso eu demonstrá-lo. Prova-o a própria fuga.

Como sabem, a Enel, a concessionária que responde pela distribuição de energia em São Paulo, virou a personagem imprevista da disputa. Na noite de ontem, passavam de 70 mil os endereços ainda sem energia. E assim amanhecerão, entrando no sétimo dia.

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Tarcísio e Nunes, para incredulidade de muita gente, resolveram jogar a culpa nas costas de Lula. Como a direita e a extrema-direita culpam o presidente até por unha encravada e espinhela caída, o troço soa um tanto ridículo. Boulos fez o que se esperava de um candidato de oposição: atribuiu parte da responsabilidade à prefeitura e ao obviamente ineficaz serviço de poda de árvores.

O candidato do PSOL se saiu melhor no debate da Band, e Nunes resolveu não correr riscos novos. Ainda que pareça improvável, mas impossível não é, uma derrota em São Paulo, já precificada pelo campo progressista, se afiguraria uma verdadeira catástrofe para os conservadores e reacionários. O preço a pagar seria gigantesco. E, então, convém aumentar ao máximo a margem de segurança.

E a segurança máxima, nesse caso, consiste em não enfrentar Boulos agora. Ambos confirmaram presença no debate da Globo no dia 25.

Nunes vai aparecer?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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