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Ronilso Pacheco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro reage a campanha por voto adolescente cooptando evangélicos

O presidente Jair Bolsonaro (PL) - REUTERS/Adriano Machado
O presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: REUTERS/Adriano Machado

Colunista do UOL

13/05/2022 04h00

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Esta talvez seja a grande trincheira que resta. O bolsonarismo vai com tudo para cima do voto da juventude evangélica, já que a derrota de Jair Bolsonaro parece ser certa no público jovem geral.

A bem sucedida mobilização para atrair adolescentes para tirar o título de eleitor afetou significativamente o presidente e sua campanha.

Não dá para dizer que Bolsonaro foi pego de surpresa. No dia 21 de abril, Bolsonaro recebeu 40 jovens influencers no Planalto. Ali se discutiu a adesão desse grupo à mobilização de jovens evangélicos para sua campanha.

Por pouco, o encontro não passa despercebido. Mas a campanha de mobilização da juventude para a retirada de título, com forte adesão de artistas pop, como Pablo Vittar, Anitta e Emicida, abertamente posicionados contra Bolsonaro, acendeu o alerta pela disputa por esse grupo etário.

O encontro de Bolsonaro com os influencers mostrou, portanto, que ele busca reagir.

Mais do que o voto jovem, a batalha é pela capacidade de uso das redes, mobilização e alcance que a juventude é capaz de fornecer. Antes mesmo dos posicionamentos de Anitta, o pastor André Valadão, da Igreja Lagoinha de Orlando (EUA), já havia decidido usar suas redes e recursos para, segundo ele, "conscientizar" os jovens.

A articulação com jovens influencers também já acontecia antes mesmo de Pablo Vittar gritar "Fora Bolsonaro" no festival Lollapalooza, em março.

Já era nítida a insatisfação da juventude com o governo Bolsonaro ante a falta de oportunidades de trabalho, o empobrecimento das famílias, políticas de ações afirmativas correndo riscos permanentes, a falta de investimento em pesquisas nas universidades e políticas culturais e de incentivo à cultura sucateadas.

Esse cenário só mostrava mesmo um caminho: recorrer à juventude evangélica conservadora ou a membros e membras de igrejas conservadoras —eles não atentariam para as deficiências políticas, econômicas e sociais do governo Bolsonaro, mas seriam atraídos pelo que o presidente chama de "princípios cristãos".

Foi esse o caminho do pastor Silas Malafaia ao disparar mensagens por Whatsapp por "jovens fazendo um contraponto a Anitta", conforme divulgado pela imprensa. A estratégia bolsonarista ecoada por Malafaia é enfatizar que, não só Anitta, mas toda essa cultura jovem "esquerdista" quer levar o Brasil para um regime comunista, de extrema-esquerda e contra as igrejas.

Tudo serve para canalizar o conservadorismo evangélico jovem em direção a Bolsonaro —desde desfiles de escolas de samba que enaltecem a religiosidade africana até uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a necessidade de se tratar o aborto como uma questão de saúde pública, e não como um crime.

A juventude evangélica conservadora reformada —grupos principalmente calvinistas— orbitavam em torno do ex-juiz Sergio Moro até uma possível terceira via se tornar uma confusão incompreensível e incapaz, até agora, de oferecer qualquer risco a Lula e a Bolsonaro.

Sem Moro, portanto, essa liderança jovem evangélica conservadora olha novamente para Bolsonaro como um "mal menor" diante da "agenda esquerdista-comunista" que se propagandeia que Lula representa.

A boa notícia é que uma grande parte da juventude tem reverberado as perdas que sua geração tem sentido no governo Bolsonaro. E, dentro deste grupo jovem, há também uma juventude evangélica que escolheu rechaçar a incoerência entre a mensagem de Jesus e as ações do governo bolsonarista. Eu ainda acredito é na rapaziada.