A democracia engoliu Sóstenes e seu fundamentalismo medíocre. Aleluia!
A Bíblia já nos diz que "a soberba antecede a ruína". Este seria o versículo perfeito para definir agora o deputado Sóstenes Cavalcante, após os últimos dias de intensa exposição e críticas ao seu Projeto de Lei 1.904/2024, que equipara o aborto realizado acima de 22 semanas de gestação ao crime de homicídio.
Sóstenes e a Bancada Evangélica estavam reinando num mundo de sucessão de vitórias sobre o governo em votações na Câmara nos últimos meses, um mundo em que o fundamentalismo da Bancada foi crucial para que a oposição desestabilizasse a articulação do Executivo no Congresso.
Estava claro, portanto, que nem Sóstenes, nem a Bancada Evangélica esperava serem obrigados a recuar. E havia razão para isso, visto que, diante da votação do regime de urgência do projeto com uma vitória tão expressiva, fez o próprio governo optar pelo silêncio e o presidente Lula se esquivar de um posicionamento.
Parecia que, uma vez mais, o parlamento mais conservador da história imporia sua chantagem a um governo que finge que não foi nada de mais, a esquerda e movimentos sociais reclamariam nas redes, impotentes, e só.
O fundamentalismo é isso: adoecedor, delirante e viciante. Ele cria um mundo paralelo em que o fundamentalista tem a certeza de que ele decide tudo no mundo, e o mundo se forjará a ele. Ele considera qualquer convite à reflexão, qualquer argumento contrário, uma heresia.
Mas as críticas e o rechaço vieram rápido. Como pequenos Davis, o pavor e o apreço por limites mínimos para a democracia e a laicidade se agigantaram para cima do Golias fundamentalista.
Movimentos de mulheres, aquelas acusadas de "feministas loucas", "abortistas", "assassinas de bebês", de repente ocuparam as ruas. Sim, havia tempos que uma manifestação não era convocada do dia para a noite, em capitais diferentes, e reunisse tanta gente e com tanta repercussão. A mobilização para as ruas veio daquelas que o deputado parece ter mais ódio e rancor.
Movimentos de grupos evangélicos, principalmente de mulheres evangélicas, foram fundamentais para marcar a distância desse fundamentalismo doentio. Elas também foram às ruas. A "representação evangélica imaginária" reivindicada pela Bancada Evangélica precisa ser desmascarada e deixar de ser endossada pela grande imprensa e analistas.
Ao lado da Bancada Evangélica, Sóstenes entrou em estado de negação. Fez vídeo, retirou vídeo, postou outros vídeos e parecia não acreditar que não estava se impondo ou convencendo, mas estava desastrosamente na defensiva. Em todas as entrevistas e debates, era nítido que defendia o indefensável.
Enquanto tentava sustentar sua arrogância e surdez, ainda vendo a si como o arquétipo de autoridade moral e política da sociedade, várias pesquisas, de fontes diferentes, de antes e de ontem, surgiram, todas indicando para o rechaço da sociedade à proposta do projeto.
Sóstenes iniciou a semana passada se agigantando para cima do governo, da esquerda e das mulheres, e iniciou esta semana pequeno, recuado, medíocre, se defendendo, elaborando argumentos que o livre da acusação de passar pano para estupradores. O que, obviamente, o projeto faz.
Em programa da Globo News, debatendo com o também deputado Henrique Vieira, Sóstenes foi um fracasso si e para sua bolha. Nenhum grande aliado de Sóstenes parece ter conseguido usar um único frame da entrevista. A sensatez e lucidez do pastor Henrique engoliram um Sóstenes defensivo, repetitivo e sem argumentos.
A derrota de Sóstenes não é, obviamente, uma batalha vencida definitivamente contra a extrema-direita e o fundamentalismo religioso no país. Mas esse é um momento emblemático. Aqueles e aquelas na sociedade brasileira, que zelam pela nossa democracia, laicidade, o respeito pelos direitos adquiridos, principalmente os adquiridos pelas mulheres, devem celebrar e não temer. O fundamentalismo assusta, mas não é tudo. A soberba antecede a ruína.
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