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Rubens Valente

Terras indígenas mais vulneráveis à Covid são de SP, RR e AM, indica estudo

15.abr.2020 - Indígenas fazem bloqueio de áreas para evitar covid-19 - Comissão Pastoral da Terra / Redes sociais
15.abr.2020 - Indígenas fazem bloqueio de áreas para evitar covid-19 Imagem: Comissão Pastoral da Terra / Redes sociais

Colunista do UOL

17/04/2020 19h42Atualizada em 18/04/2020 11h09

Duas terras indígenas localizadas a poucos quilômetros do centro de São Paulo e as terras Yanomami, em Roraima, e Vale do Javari, no Amazonas, estão entre as mais vulneráveis no país, nesse momento, ao novo coronavírus. É o que indica um estudo realizado pela organização não governamental ISA (Instituto Socioambiental) e o Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

"Acreditamos que um modelo como esse pode sinalizar, identificar regiões prioritárias mais vulneráveis que podem ser olhadas com mais atenção para a otimização de recursos públicos, por exemplo. A ideia é olhar para regiões que estão mostrando um alto grau de vulnerabilidade, a fim de acender um sinal amarelo para que a saúde indígena possa intensificar alguma ação, como a busca ativa por novos casos", disse o pesquisador do ISA Antonio Oviedo.

Até o início da noite desta sexta-feira (17), a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) do Ministério da Saúde registrava 27 casos confirmados e três mortes causadas pela Covid-19 entre indígenas.

A terra indígena Barragem, habitada por cerca de 870 indígenas guaranis e localizada a cerca de 55 km do centro de São Paulo, foi considerada pelo estudo do ISA/UFMG a mais vulnerável nesse momento. O estudo estabeleceu uma nota de 0 a 1 para definir o grau de vulnerabilidade da terra indígena à doença. Quanto mais perto de 1, mais é vulnerável. A Barragem ficou com o índice de 0.7.

Na sequência apareceram as terras indígenas Yanomami (0.69), em Roraima, a Jaraguá (0.68), em São Paulo, a Vale do Javari (0.66), no Amazonas, a Guarani do Krukutu (0.58), em São Paulo, a Raposa/Serra do Sol (0.54), em Roraima, a Rio Branco do Itanhaém (0.52), em São Paulo, a Waimiri-Atroari (0.51), em Roraima, a Alto Rio Negro (0.50), no Amazonas, a Cantagalo (0.50), no Rio Grande do Sul, a Praia do Mangue (0.50), no Pará, a Praia do Índio (0.49), no Pará, 0.499, a Aldeia Velha (0.49), na Bahia, a Tapeba (0.49), no Ceará, e a Coroa Vermelha (0.49), na Bahia.

Para chegar à lista das terras indígenas mais vulneráveis à Covid-19, o trabalho utilizou modelos de probabilidade de dispersão da Covid-19 propostos em estudos do MAVE (Grupo de Métodos Analíticos de Vigilância Epidemiológica), que reúne o Procc (Programa de Computação Científica) da Fiocruz e a Emap (Escola de Matemática Aplicada) da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Os estudos levam em conta "os dados de vulnerabilidade social, disponibilidade de leitos hospitalares, números de casos por município, número de óbitos, perfil etário da população indígena, vias de acesso e outros fatores relacionados com a estrutura de atendimento da saúde indígena e mobilidade territorial".

A probabilidade da vulnerabilidade foi calculada a partir dos casos confirmados da Covid-19 por município no Brasil. "Assim, locais com menor acessibilidade e maior número de casos por município apresentaram uma maior probabilidade, a priori, de vulnerabilidade. Para o cálculo da probabilidade posterior foram integradas variáveis que reduzem a vulnerabilidade como número de respiradores disponíveis no município e número de leitos disponíveis", explica a nota técnica do estudo.

"Regiões de influência das terras indígenas com menor número de leitos e maior distância às áreas urbanas e terras ocupadas pela agricultura encontram-se com maior risco no curto prazo de saturação da assistência. Frente a um possível cenário de dispersão da doença, medidas como implantação de novos leitos e remanejo para UTI devem ser priorizadas, com particular urgência naquelas regiões e Terras Indígenas que combinam número relativamente baixo de leitos por habitante. Por outro lado, a proximidade com áreas urbanas com transmissão sustentada é um ponto de atenção. Para esses casos, há um incremento da vulnerabilidade somado às condições sociais como a insuficiência de territórios reconhecidos, insegurança alimentar e condições de vida precárias."

A nota técnica do estudo é assinada por Ubirajara Oliveira e Britaldo Soares Filho, da UFMG, e Antonio Oviedo, Tiago Moreira, Silvio Carlos, João Ricardo e Alex Piaz, do ISA.