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Rubens Valente

Indígenas isolados aparecem em rancho e Funai atua para evitar contágio

Placa de identificação do território indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi danificada por tiros em Rondônia - Povo Uru-Eu-Wau-Wau
Placa de identificação do território indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi danificada por tiros em Rondônia Imagem: Povo Uru-Eu-Wau-Wau

Colunista do UOL

20/06/2020 15h16

Um grupo de indígenas isolados apareceu nesta sexta-feira (19) em um rancho na zona rural de Seringueiras, a cerca de 560 km de Porto Velho (RO), fazendo disparar o alarme entre indigenistas da Funai (Fundação Nacional do Índio) em tempos de pandemia do novo coronavírus. Após deixar pedaços de carne de caça e pegar um machado e uma galinha, os indígenas voltaram para a floresta.

A notícia sobre o aparecimento inédito rapidamente se espalhou entre os cerca de 12 mil moradores do município. De forma emergencial, para tentar evitar que os indígenas sejam contaminados por qualquer doença, os técnicos da Funai tiveram que entrar ao vivo na emissora de rádio local para acalmar os moradores locais e pedir que se afastem e não deem nenhum objeto aos índios, caso eles voltem a aparecer.

Organismos de indígenas isolados são vulneráveis a todo tipo de doenças já comuns entre não indígenas. Uma simples gripe, por exemplo, se não tratada pode evoluir para uma pneumonia fatal em poucos dias.

Foi a primeira vez - pelo menos nos últimos 32 anos, desde que a Funai criou um setor para o tema dos isolados, em Brasília - que esse grupo de indígenas, conhecido nos registros oficiais como "Isolados do Cautário", em referência a um rio da região, faz contato com não indígenas. A Funai sabe da existência dos indígenas desde os anos 90, mas é a primeira vez que um não indígena e fora dos quadros da Funai confirma a existência dos isolados.

Dastin Nascimento, auxiliar de indigenismo da Funai que foi ouvido pela rádio local a fim de orientar a população, estima que possam existir na região mais de 400 índios isolados, divididos em três grandes famílias. Não há confirmação oficial sobre essa estimativa.

Pela observação que a Funai tem feito à distância nos últimos anos, eles dormem em redes e se alimentam da caça e da pesca dentro da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Têm o cabelo cortado em forma de cuia. Nascimento disse que ainda é impossível saber o motivo do contato dos indígenas.

O contato partiu de um grupo estimado de oito a dez índios. A dona do rancho, situado a cerca de 3 km do limite da terra indígena demarcada e a 30 km do centro urbano de Seringueiras, primeiro viu um dos indígenas, nu, no quintal do sítio. Assustada, ela correu e se trancou no banheiro da casa. Disse depois que ouviu cerca de uma dezena de vozes diferentes, inclusive de crianças. Logo depois os indígenas foram embora, levando um machado e uma galinha. Deixaram para trás pedaços de carnes de caça de um porco de mato e uma paca. Como são carnes valiosas para os indígenas, o gesto foi interpretado como uma amistosa troca de mantimentos.

A Polícia Militar acionou a Funai, que já atua na região e mandou uma equipe ao município. "A preocupação maior é o contato com a sociedade não indígena, ainda mais agora em tempos de covid-19. A nossa intenção foi alertar a população sobre a preocupação de que, por curiosidade, já que a informação estava espalhada, alguém pudesse querer fazer um contato, ou querer ajudar, e de alguma forma estabelecer um diálogo que não pode ocorrer. Isso de forma alguma é saudável para os indígenas. Queremos acalmar os moradores. A orientação é que telefonem para a Funai ou para a Polícia Militar e se afastem", disse Nascimento.

Os trabalhos da Funai na região têm a participação de Rieli Franciscato, um experiente e conhecido indigenista da Funai, com muitos anos de atuação no tema dos isolados, que deverá fazer uma expedição para tentar monitorar a situação dos isolados.