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Rubens Valente

REPORTAGEM

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Indígenas denunciam novo ataque de garimpeiros na terra Yanomami, em RR

Colunista do UOL

17/05/2021 10h54

A HAY (Hutukara Associação Yanomami) denunciou na manhã desta segunda-feira (17) um novo ataque de garimpeiros contra uma aldeia em Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Segundo a HAY, na noite deste domingo (16) um grupo de garimpeiros em 15 barcos disparou tiros na mesma comunidade que já havia sido alvo de outro ataque no último dia 10.

Como resultado do primeiro ataque em uma semana, segundo os indígenas, duas crianças ianomâmis morreram afogadas durante a correria e o pânico que se instalaram na aldeia em meio aos tiros. Outras cinco pessoas saíram feridas, das quais um indígena e quatro garimpeiros, de acordo com os ianomâmis. Um dia depois, uma equipe da Polícia Federal que foi ao local averiguar o conflito também trocou tiros com garimpeiros.

Além disso, foi reportado pela HAY um outro ataque em abril, quando os indígenas bloquearam uma embarcação de garimpeiros no rio Uraricoera.

O mais recente ataque à aldeia, de acordo com a HAY, foi informado por telefone às 21h40 do domingo pelos indígenas de Palimiú. "Segundo disseram os Yanomami, eram 15 barcos de garimpeiros se aproximando contra a comunidade. Os Yanomami disseram que além dos tiros, havia muita fumaça e que seus olhos estavam ardendo, indicando o disparo de bombas de gás de gás lacrimogêneo contra os indígenas. Os Yanomami estavam muito aflitos, e gritavam de preocupação ao telefone. Ao fundo, era possível escutar o som dos tiros. A situação era grave", diz a nota subscrita pelo líder Dário Kopenawa Yanomami.

A HAY disse ter informado o conflito à Funai (Fundação Nacional do Índio), à Polícia Federal, à Brigada de Infantaria de Selva do Exército e ao Ministério Público Federal. Pediu a instalação de "um posto avançado emergencial na comunidade Palimiú, com o objetivo de manter a segurança no local e no rio Uraricoera" e apoio logístico do Exército imediato "para garantir a manutenção da segurança no local".

Há mais de dois anos, durante o governo Bolsonaro, as lideranças ianomâmis denunciam a ação e pedem a retirada de cerca de 20 mil garimpeiros dentro da terra indígena, onde a atividade é ilegal. O vice-presidente e coordenador do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Hamilton Mourão, argumentou no ano passado que são 3,5 mil garimpeiros, mas disse que seria "complexa" a retirada dos garimpeiros.

No STF (Supremo Tribunal Federal), tramita desde o ano passado uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental ajuizada pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). Um dos pontos da ação é o pedido de retirada imediata de invasores de sete terras indígenas, incluindo a Yanomami. O relator do processo, ministro Luís Roberto Barroso, em julho do ano passado não concedeu liminar sobre esse pedido dos indígenas. Ele deu um prazo para o governo apresentar um plano de retirada dos invasores, mas as invasões continuam e foram ampliadas dentro das sete terras indígenas.

A coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas no Congresso Nacional, a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) alertou, em reunião na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania) nesta segunda-feira, sobre a "gravidade que está acontecendo na terra indígena Yanomami, onde os indígenas estão pedindo para se manterem vivos".

"[Estão sendo] sendo atacados por garimpeiros e isso tem sido feito constantemente, todos os dias, inclusive ontem à noite. Mulheres, crianças, estão com medo de qualquer outro ataque. Garimpo é ilegal. Infelizmente, encorajado por esse presidente que presta um desserviço à nação brasileira", disse Joênia.