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Tales Faria

REPORTAGEM

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Irmãos Miranda tornaram-se para Bolsonaro o que o Eriberto foi para Collor

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

26/06/2021 04h00

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A sessão desta sexta-feira, 25, da CPI da Covid terminou com uma bomba: o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), virou o pivô das suspeitas de corrupção na compra irregular das vacinas Covaxin e incriminando o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Não é apenas mais uma denúncia de corrupção. É o primeiro caso envolvendo diretamente o presidente. O deputado Luís Miranda (DEM-DF) declarou ter ouvido de Bolsonaro que já tinha conhecimento de um crime contra o erário sem a reação apropriada.

E Bolsonaro nada teria feito por quê?

Porque o mandatário do Planalto, diferentemente de tudo o que prometeu durante a campanha eleitoral, entregou seu governo ao centrão, aquele grupo de partidos sem coloração ideológica que domina o Congresso Nacional em troca de favores.

Ricardo Barros é um dos principais integrantes do PP, o maior partido do centrão. E é o centrão que dá sustentação ao governo no Congresso, desde que Bolsonaro começou a perder popularidade.

É do PP o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e também o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional da sigla. Lira já anunciou que pretende barrar todos os pedidos de impeachment que foram dados entrada na Câmara. E Ciro Nogueira é um dos principais membros da tropa de choque do governo na CPI.

O deputado Luis Miranda e seu irmão, Luís Ricardo Miranda, tornaram-se uma espécie de Eriberto França do governo Bolsonaro.

Luís Ricardo é funcionário do Ministério da Saúde. Buscou o irmão deputado para proteger-se de pressões que sofria para aprovar o pagamento de um contrato irregular na compra da Covaxin, as vacinas da Índia contra o coronavírus.

Seu irmão integrava a base de apoio ao governo no Congresso. Com essa credencial, conseguiu marcar um encontro com o presidente no Palácio da Alvorada, num sábado. Levou o irmão a tiracolo com a informação sobre pressões internas no Ministério da Saúde.

Disse ter ouvido de Bolsonaro que o líder Ricardo Barros, que já foi ministro da Saúde, estava por trás da negociata. Mas o presidente teria dito que colocaria a Polícia Federal para investigar.

Luís Miranda também contou que ouviu do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que este perderia -como perdeu - o cargo na Esplanada dos Ministérios por tentar barrar a corrupção na pasta.

Já Eriberto França, o motorista do ex-presidente Fernando Collor Mello, por sua vez, foi quem revelou à CPI da época as ligações entre o então presidente da República e PC Farias.

Foi o motorista a testemunha-chave do impeachment de Collor. Apontou Paulo César Farias, o tesoureiro da campanha eleitoral, como quem de fato pagava as contas pessoais do presidente da República com o dinheiro que arrecadava de empresários.

Até então, a CPI só focara no tesoureiro, apontado por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, como um arrecadador de propinas de empresários. Eriberto é quem fez a ligação com o presidente da República.

E como aquela CPI, quando esta de agora foi instalada, tudo parecia que não daria em nada. A propósito, foi isso o que afirmou o então coordenador político do governo, Jorge Bornhausen. Exatamente o que disse agora o chefe da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, numa irada entrevista coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.

E quis o destindo que o hoje senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, tenha sido um dos principais algozes de Collor naquela CPI. Renan era deputado federal e integrante da base governista. Mais que isso: líder do governo na Câmara até romper com o presidente e se tornar uma das principais testemunhas na CPI.

Pois é. Quem disse que a história não se repete?