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Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Posição do governo dos EUA é o que mais sensibiliza generais brasileiros

Porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, defende as urnas eletrônicas em pronunciamento na Casa Branca - Reprodução/ Departamento de Estado dos EUA
Porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, defende as urnas eletrônicas em pronunciamento na Casa Branca Imagem: Reprodução/ Departamento de Estado dos EUA

Colunista do UOL

21/07/2022 13h35

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Os comandantes militares brasileiros consideram as Forças Armadas dos Estados Unidos o principal aliado geopolítico do Brasil. Oficiais generais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica avaliam como maléfica para o país qualquer política interna que ponha em risco esse relacionamento.

A declaração pública do porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, em favor das urnas eletrônicas soou como um aviso aos militares brasileiros de que devem se afastar das críticas de Bolsonaro ao nosso sistema de apuração dos votos.

Em pronunciamento à imprensa na Casa Branca, nesta quarta-feira, 20, Price afirmou: "Na nossa visão, as eleições no Brasil vêm sendo conduzidas pelo sistema eleitoral brasileiro, capacitado e já testado, e pelas instituições democráticas com sucesso por muitos anos. Então, trata-se de um modelo para nações, não apenas para este hemisfério, mas para o mundo."

Antes mesmo dessa fala, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica já se sentiam incomodados com o envolvimento exagerado que o presidente da República tem promovido entre seu governo e a imagem das Forças Armadas. A avaliação é de que têm entrado num conflito como meros peões no jogo de poder.

Esse é um dos motivos por que os comandantes militares não compareceram à apresentação que Bolsonaro fez aos embaixadores estrangeiros sediados no Brasil contra as urnas. Isso ocorreu apesar de uma parcela considerável dos militares acreditar na possibilidade de falhas no sistema.

A partir da nota da Secretaria de Estado, o mal-estar inicial se transformou numa pressão efetiva sobre o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para ele se afastar da polêmica entre o presidente Jair Bolsonaro e o Tribunal Superior Eleitoral.

É do interesse das Forças Armadas manter uma boa relação com o próximo presidente da República, seja ele quem for. Portanto, já passou da hora de os militares se prepararem para a possibilidade de Bolsonaro não ser reeleito.

Na avaliação dos generais, o ministro tem se equivocado ao priorizar sua relação pessoal com o antecessor, o general Braga Netto, agora pré-candidato a vice na chapa de Bolsonaro. A expectativa é de que o general Paulo Sérgio dê prioridade à defesa dos interesses da caserna, numa postura mais profissional.

Na frente nas pesquisas, Lula tem acionado oficiais generais da reserva que participaram de seu governo para sondar aqueles da ativa que poderão se aproximar do Planalto, caso ele vença as eleições.

Com isso está deflagrada, silenciosamente, a sucessão nas chefias militares, apesar de, em princípio, os mais antigos assumirem. O que se diz é que não vale a pena, neste momento, trazer para os quartéis a polarização das campanhas. A ordem unida é de moderação.