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Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Negar ida à Fiesp é só mais uma etapa da temporada de fugas de Bolsonaro

18.jul.2022 - Bolsonaro com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada - Reprodução
18.jul.2022 - Bolsonaro com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

04/08/2022 12h55

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Uma coisa era o deputado do baixo clero do centrão Jair Bolsonaro. Ninguém o levava muito a sério e ele dizia barbaridades para ocupar espaço no noticiário. Passou por sete mandatos sem condições de disputar uma eleição majoritária. Este Bolsonaro praticamente rogava por bate-bocas com espaço na mídia.

Não vinha dando muito certo. Disputou três vezes a presidência da Câmara, sendo derrotado em todas. Na última vez, em 2017, conseguiu apenas quatro votos.

Outra coisa é o Bolsonaro candidato a presidente da República que foi eleito e, agora, é candidato à reeleição. Este Bolsonaro não corre mais atrás de uma vaguinha em debates públicos.

Pelo contrário, foge deles para não perder os votos que a sorte lhe permitiu conquistar. Prefere a proteção de sua bolha de seguidores e do cercadinho do Palácio do Planalto.

É este Bolsonaro que recusou convites para tentar expor suas ideias aos empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do grupo Esfera. Os encontros estavam marcados para o próximo dia 11.

Em 2018, como candidato à Presidência, creio que Bolsonaro só chegou a participar de três debates antes de ser atingido pela fatídica facada em Juiz de Fora (MG). Depois, não mais.

Nos poucos encontros de que havia participado, Bolsonaro se saiu muito mal, especialmente nos duelos contra Marina Silva, Guilherme Boulos e Ciro Gomes.

Foi aí que ele concluiu que o debate franco de ideias não lhe ajuda em nada. Bolsonaro é bom de criar polêmicas com frases agressivas, mas não na frente de um opositor. Nessas horas, ou perde a cabeça e fala besteira, ou é triturado pela argumentação do oponente.

Depois da "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!", divulgada pela Faculdade de Direito da USP e que já tem mais de 700 mil assinaturas, incluindo empresários e banqueiros de renome e entidades de trabalhadores e patronais, o presidente passou a temer encontros com empresários.

Em 2018, o hoje ministro da Economia, Paulo Guedes, convenceu a elite empresarial e financeira de que Bolsonaro seria um presidente nos moldes que eles queriam.

Mas, além de não cumprir um mínimo das promessas nos seus três anos e meio de governo, Bolsonaro passou a atacar a democracia e abriu um flanco nas relações com os Estados Unidos e as maiores economias do mundo, o que em nada interessa aos chefões da economia no Brasil.

O temor do presidente, depois que empresários decidiram expor publicamente o desagrado, é que algum deles, mais afoito, resolva confrontá-lo num desses encontros.

Os integrantes da sua campanha eleitoral conhecem muito bem o chefe e compartilham do seu temor: se for confrontado, Bolsonaro pode falar besteira e perder preciosos votos num momento decisivo da disputa por eleitores.

Consideraram melhor mesmo fugir da raia. Assim como ele também já está fugindo de debates e sabatinas na campanha.

Os desencontros na Fiesp e com o grupo Esfera serão apenas mais uma etapa da temporada de fugas de Bolsonaro nestas eleições. Encontros mesmo, ele só quer manter com a turma da sua bolha.