Topo

Tales Faria

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Planalto foi informado de que Bolsonaro e Anderson Torres encontraram-se

Colunista do UOL

10/01/2023 16h46Atualizada em 10/01/2023 18h18

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Antigos aliados de Jair Bolsonaro informaram ao Palácio do Planalto que o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres encontrou-se com o ex-presidente da República em Orlando, nos EUA.

O encontro teria ocorrido no sábado (7), um dia antes do quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, em Brasília, promovido por terroristas bolsonaristas.

Anderson Torres havia sido ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Assumiu como secretário no dia 2 de janeiro. Logo depois, tirou férias, foi para os Estados Unidos e acabou exonerado da Secretaria após os atos terroristas — hoje foi alvo de mandado de prisão determinado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Foi substituído por um interventor do governo federal, o atual secretário-executivo do Ministério da Justiça Ricardo Cappelli, que o acusou de ter sabotado o esquema de segurança na capital federal. Em entrevista à CNN, Cappelli afirmou que Torres mudou todo o comando da secretaria antes de viajar.

"No dia 1º, tivemos uma posse com milhares de pessoas e uma operação de segurança extremamente exitosa. O que mudou para o último domingo, dia 8, foi que, no dia 2, Anderson Torres assumiu a Secretaria, exonerou todo o comando e viajou. Se isso não é sabotagem eu não sei o que é", disse o interventor.

Segundo os informantes do governo Lula, o ex-presidente Bolsonaro teria mandado auxiliares seus, que o acompanham na estada nos EUA, receberem seu ex-ministro no aeroporto de Orlando.

Anderson Torres era considerado homem forte entre políticos conservadores de Brasília. Seu assessor especial no Ministério era simplesmente o presidente regional do União Brasil, Manoel Arruda.

Arruda acaba de ser eleito como suplente da chapa para o Senado de Damares Alves (Republicanos), em uma coligação acertada com a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.

Em razão da formação dessa aliança, a ex-ministra-chefe da Secretaria de Governo Flavia Arruda (PL) acabou perdendo a eleição para o Senado. Seu marido, o ex-governador José Roberto Arruda, considera ter sido traído por Bolsonaro e pelo governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). E Manoel Arruda teria sido o artífice dessa traição.

Ele é muito ligado ao governador afastado do DF há pelo menos dez anos, quando Ibaneis, então presidente da Seccional da OAB, o empossou como presidente da Comissão de Assuntos Regulatórios da entidade.

Manoel Arruda também atuou por um ano como subsecretário de Prevenção à Criminalidade do primeiro governo de Ibaneis, o que lhe garantiu, até hoje, penetração na polícia do Distrito Federal.

A desconfiança da equipe de Lula é que, ao afastar os chefes da antiga área de Segurança do DF, Anderson Torres tenha deixado a ordem de mudança nos planos de contenção para a manifestação bolsonaristas do domingo.

Segundo declarou publicamente o ministro da Justiça, Flávio Dino, os manifestantes seriam impedidos de entrar na Esplanada no domingo, mas o plano foi alterado pelo GDF na noite do sábado, sem que o governo federal fosse consultado.

Um ex-secretário de Segurança de Brasília costumava dizer que, se os manifestantes da capital não fossem contidos antes de entrar na Esplanada, dificilmente poderiam ser impedidos de invadir a Praça dos Três Poderes.

Foi o que ocorreu no domingo. Com a Praça dos Três Poderes tomada, os bolsonaristas invadiram e aterrorizaram o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.