Topo

Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Deltan Dallagnol é vítima de vingança, mas isso não o exime de culpa

Colunista do UOL

17/05/2023 13h25

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O procurador Deltan Dallagnol tem razão quando diz que a cassação de seu mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é fruto de um tipo de vingança. Mas isso não o exime de culpa.

De fato, Deltan conta com uma profunda antipatia não só do meio político, sobre o qual agiu como um verdadeiro carrasco em aliança com o então todo-poderoso juiz da operação Lava Jato, o hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Ambos atuaram juntos na preparação de artimanhas para condenar todo um grupamento de políticos dos quais simplesmente não gostavam. Agiram ao arrepio de ritos e normas legais.

E o pior é que acabaram se beneficiando pessoalmente dos processos. Um deles tornou-se ministro e, depois, senador da República; outro, elegeu-se deputado federal.

As artimanhas dos dois também irritaram profundamente o meio jurídico. Ministros de tribunais superiores sentiram-se manipulados pela dupla. E nada irrita mais um juiz do que descobrir que sancionou decisões por força de artimanhas de algum espertinho.

Veja-se, por exemplo, o caso do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre quem recaiu a decisão de deixar ou não o petista Luiz Inácio Lula da Silva assumir como ministro da então presidente, Dilma Rousseff.

A Operação Vaza Jato revelou que foi numa articulação de Deltan e Moro que vazou a tal conversa telefônica entre Lula e Dilma que causou uma verdadeira comoção nacional na época.

Divulgada de maneira descontextualizada, a conversa fez parecer que Lula e Dilma tramavam contra a República. Levou Gilmar a decidir pela proibição da posse do petista como ministro.

Se Lula tivesse tomado posse, não poderia ser preso por determinação de um juiz de primeira instância, como Moro, e a jurisdição sobre seu caso passaria ao STF.

No fundo, graças a Deltan, Moro e aos erros dos juízes e jornalistas que os seguiram, vivemos hoje uma enorme confusão institucional no país. Confusão esta que se volta agora contra o próprio Deltan.

São erros que não se apagarão facilmente, assim como os erros que vierem a ser cometidos pelos tribunais superiores na tentativa de desfazer o passado.

Não é possível simplesmente passar uma borracha utilizando-se de uma fórmula aritmética daquelas que aprendemos na escola primária: menos com menos dá mais. Erro com erro não dá um acerto.