Thais Bilenky

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Dirceu ensaia retorno em festa com elite política e expõe tensões

A festa do ex-ministro José Dirceu nesta quarta-feira (13) em Brasília reuniu parte relevante da elite política do país, expondo tensões e afinidades no entorno do presidente Lula.

Algumas cenas dão o tom.

Ex-presidente do PT, o deputado Rui Falcão é um dos primeiros a chegar à festa de José Dirceu, e se depara com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. As críticas de Falcão à abordagem apaziguadora de Múcio nas Forças Armadas são conhecidas. Assim como é explícito o apoio do presidente Lula ao ministro.

"Você quer que eu saia?", questiona Múcio. "Quero", responde Falcão, na lata.

Em outra roda, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, descabelado, sem gravata e com os primeiros botões da camisa abertos, desabafa. Está inconformado com informações imprecisas sobre a polêmica envolvendo a distribuição de lucros da petroleira — e os prejuízos milionários decorrentes dela.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) se aproxima. "Tem dois jeitos de ir embora. À francesa, quando você sai sem se despedir. E à brasileira, quando você se despede sem sair", brinca. Todos gargalham, e ele, à brasileira, continua a circular livremente.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido defendido publicamente por Dirceu das críticas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Haddad bloqueou a agenda na quarta a partir das 20h. Foi um dos primeiros a chegar à festa. E um dos primeiros a sair. À francesa.

Já Gleisi não apareceu.

Haddad passou quase o tempo todo sentado numa mesa com a mulher, Ana Estela, e Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central, e outros integrantes do ministério. Os convidados que chegavam, depois de cumprimentar o anfitrião, iam necessariamente ao beija-mão de Haddad.

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A cena conta uma história prescindindo de palavras, a de uma dupla influente e afinada. Galípolo deve ser indicado para presidir o BC no ano que vem, confirmando e reforçando a influência de Haddad no governo.

Horas depois de o titular da Fazenda ir embora, depois de dez ministros circularem pelo casarão no Lago Sul, começou a chegar em peso outro grupo político: o centrão, a elite da Câmara dos Deputados.

Todos os aspirantes a presidente da Casa deram as caras: Elmar Nascimento, Marcos Pereira, Antonio Britto, Isnaldo Bulhões. Os deputados da cúpula do Congresso passaram pela festa. Até chegar o mais importante deles, o presidente da Câmara, Arthur Lira, já tarde da noite.

Rompido com o ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política, que também esteve na festa, Lira prestigiar a eminência nem tão parda assim de Dirceu é um fato político. O presidente da Câmara tem boas relações com Dirceu e seu filho deputado, Zeca Dirceu. Fazem, juntos, um contraponto ao grupo de Gleisi Hoffmann na Câmara, no PT e no governo.

A festa ajudou Dirceu a medir a temperatura de um possível retorno seu à política institucional. Se sanar uma última pendência judicial no Supremo Tribunal Federal, poderá voltar a disputar eleições. Fala-se na possibilidade de ele tentar uma vaga na Câmara nas eleições de 2026.

Começou como uma festa exclusiva para convidados selecionados num casarão do advogado Marcos Meira. No convite foi feito um pedido para cada um levar a sua bebida.

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Mas na hora do vamos ver, entrava quem quisesse, garçons circulavam com bebida à vontade e Dirceu mal conseguia sair da porta tirando fotos e apertando mãos dos mais variados cantos do país.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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