'Trabalho de formiguinha' deu vitória política a Tarcísio com Sabesp
A despeito do modelo polêmico e contestações técnicas, a privatização da Sabesp (companhia de saneamento básico do estado de São Paulo) nesta semana coroou um trabalho de formiguinha de mais de um ano do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ao lado de Natália Resende, secretária de Logística, Infraestrutura e Meio Ambiente, Tarcísio recebeu um por um os 375 prefeitos paulistas cujos municípios são atendidos pela Sabesp, no esforço de criar um ambiente favorável à desestatização da empresa.
Ele poderia ter delegado a Resende a missão e ter comparecido apenas às reuniões mais importantes. Mas deu a cara em todas.
Durante dois meses em meados de 2023 a agenda do dia inteiro era mobilizada para as conversas com prefeitos. Era pensão completa: café da manhã, almoço e jantar com prefeito no Palácio dos Bandeirantes. Os encontros eram longos para esgotar dúvidas e questionamentos.
O governador tampouco terceirizou a tarefa de explicar e convencer. Respondia ele próprio qual era o modelo escolhido, como funcionaria para o município e dava os argumentos a favor da privatização.
Claro, os prefeitos não apenas perguntavam. Também pediam e muito. "Vicinal. É sempre vicinal que eles pedem", comentou Natália Resende, sorrindo, na época das articulações.
Alguns prefeitos saíam das reuniões impressionados com a deferência do governador. Só de serem recebidos no palácio já comemoravam. Podendo perguntar e pedir, então, ficaram gratos a Tarcísio.
Ao final do processo, dos 375 municípios abastecidos pela Sabesp, 371 adeririam.
"Os prefeitos estão satisfeitos", disse Orlando Morando (PSDB), de São Bernardo do Campo. "Tarcísio está com forte aprovação."
Eduardo Cury, pré-candidato do PL a prefeito de São José dos Campos, concorda. "A minha impressão é que o governador sai muito fortalecido pois mostrou coragem e determinação."
Tarcísio estreou na política com a secretaria de parceria público-privada (PPI) no governo Temer, portanto a privatização da Sabesp ajuda a consolidar uma imagem liberal na economia.
Políticos de oposição, no entanto, apostam que a médio e longo prazo eventuais contestações judiciais, aumentos de tarifa e falhas na prestação de serviço vão cobrar seu preço na política também.
As contestações já começaram. Questiona-se o fato de a privatização só ter tido um investidor de referência, a Equatorial, que embora seja uma gigante no setor de energia, é novata no saneamento.
Além disso, a presidente do conselho de administração da Sabesp, Karla Bertocco, ocupava até o ano passado um cargo no conselho da Equatorial.
E por fim o valor da ação vendida para a Equatorial, R$ 67, ficou abaixo do preço negociado do papel no dia seguinte, de R$ 87.
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