Áudio de Ramagem e Bolsonaro, memes sobre Haddad e+
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Com obesidade em alta, Câmara cede ao lobby e livra vilão de imposto
A obesidade disparou no Brasil, mas os deputados deixaram o vilão da má alimentação impune na regulamentação da reforma tributária. Os alimentos ultraprocessados, que têm ingredientes sintéticos em farta quantidade, ficaram sem a sobretaxa defendida por ativistas da área. Mas seu encarecimento e, como consequência, menor consumo ajudaria o país a parar de engordar.
A taxa de crianças com peso acima do indicado para a idade saltou de 7,5%, em 2008, para 12% no ano passado. Já a de crianças abaixo do peso adequado caiu de 7,5% para 1,1%. Entre adultos, a taxa de pessoas com algum grau de obesidade saltou de 14,45% em 2008 para 33,25% em 2023. Já a de pessoas abaixo do peso caiu, de 14,45% em 2008 para 2,1 em 2023.
Os dados foram extraídos pelo UOL do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), um sistema do Ministério da Saúde. Eles estão relatados no quarto episódio do podcast, que já está no ar.
O Sisvan guarda registros de peso e altura de pacientes da rede pública de saúde, muitos atendidos por programas sociais. Por isso, os dados refletem a realidade da população mais vulnerável do país.
"Perdemos a oportunidade da inclusão de todos os produtos alimentícios ultraprocessados no imposto seletivo", disse ao podcast Raphael Barreto, gerente da área de obesidade infantojuvenil do Instituto Desiderada.
O imposto seletivo, também conhecido como Imposto do Pecado, será aplicado para produtos nocivos à saúde como álcool e tabaco, com alíquota mais alta. Se os ultraprocessados fossem incluídos neste rol, o consumo deles poderia cair 21%, segundo o Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP.
Mas, pelo texto aprovado na Câmara, os ultraprocessados terão a alíquota de referência do IVA (imposto de valor agregado), estipulada em 26,5%.
Esses alimentos são apontados como vilões de dietas que causam doenças crônicas não transmissíveis.
Um estudo feito por pesquisadores da USP, Universidad de Santiago de Chile e Unifesp identificou que o consumo de alimentos ultraprocessados foi responsável por cerca de 57 mil mortes prematuras. É mais do que o número de mortes por homicídio no país, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública - 39,5 mil em 2022. Os pesquisadores associaram os alimentos a doenças como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. Os dados foram coletados em 2022.
Um outro estudo, realizado por pesquisadores do Instituto Desiderata, USP e Fiocruz, apontou que o impacto financeiro da obesidade infantojuvenil no SUS foi de R$ 213,1 milhões, de 2013 a 2022, considerando despesas ambulatoriais e medicamentos. Os pesquisadores ressaltam que a obesidade infantil é um forte preditor da obesidade adulta, aumentando os riscos do surgimento de doenças crônicas não transmissíveis.
Caso 'Taxad' mostra que não existe meme grátis
Não existe "memice grátis". A quantidade e a velocidade de memes criados nas últimas semanas, todos com a mesma estética e o mesmo alvo, sugerem que não foi um movimento "orgânico" de redes, mas algo planejado e organizado, ponderou o colunista José Roberto de Toledo no podcast A Hora desta sexta-feira (19).
Apenas um perfil no X (antigo Twitter) publicou mais de 75 memes diferentes em poucos dias insinuando que o ministro Fernando Haddad quer taxar tudo e todos. Para Toledo, isso é mais um sinal de que foi uma armação com alvo específico, já que Haddad é o sucessor natural de Lula nas próximas eleições presidenciais.
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Quero receber"Para fazer esse volume de meme, o cara não faz outra coisa na vida. E tem outros perfis também com uma produção industrial de memes. Eles se enquadram naquela zona cinzenta, que é antilulista, antipetista, mas que ocasionalmente fala mal do Bolsonaro. São os mercenários da política", avaliou Toledo.
Segundo o colunista, a "memice" conseguiu virar notícia, ajudada pelos 15 segundos na Times Square, mas não furou a bolha antipetista ou anti-Haddad. O pico de menções à taxa/imposto nas redes foi em maio, bem antes dessa nova onda de ataques a Haddad. Desde então, o engajamento com o tema vem caindo todo mês.
Vale lembrar que a taxação das blusinhas é um projeto que não vem de agora. No governo Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes apresentou uma medida provisória para fazer a criação dessa taxa, mas foi negada pelo presidente na época. Já no governo Lula, quem colocou esse projeto para aprovação, e teve êxito, foi o presidente da Câmara Arthur Lira.
"Muito curioso que não tenha pegado no Lira o 'Taxad' e sim no ministro da Fazenda, sendo que o presidente da Câmara teve um papel central para a aprovação dessa taxa", concluiu.
Gravação de Ramagem mostra 'flagrante permanente' do governo Bolsonaro
O áudio de mais de uma hora de uma reunião entre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em 2020, Alexandre Ramagem, mostra um governo em estado de "flagrante permanente".
A análise foi feita no quarto episódio do podcast A Hora, do UOL, que já está no ar.
A gravação foi tornada pública por decisão do ministro Alexandre de Moraes, no relatório do inquérito sobre a Abin Paralela no Supremo Tribunal Federal.
Estavam na reunião Bolsonaro, Ramagem, duas advogadas do senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ), filho 01 do ex-presidente, e Augusto Heleno, então ministro-chefe da Casa Civil. Eles discutiam como fazer para parar e anular uma investigação na Receita sobre suposta rachadinha no gabinete de Flavio Bolsonaro. Se isso ficar comprovado, eles podem ser acusados de cometer os crimes de prevaricação e advocacia administrativa.
Membros da campanha de Ramagem, que agora é deputado federal e pré-candidato a prefeito do Rio, desconfiam de que virão mais revelações das investigações da Polícia Federal. E consideram pouco crível que Bolsonaro não lembrasse da gravação, como se ventilou no seu círculo próximo.
Reforçados por emendas, prefeitos são favoritos à reeleição em 2026
Quem são os maiores padrinhos da eleição deste ano? Lula? Bolsonaro? O apoio de ambos é ansiado por mais de um candidato a prefeito nas disputas em várias cidades importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mas, para a grande maioria dos municípios brasileiros, os atuais prefeitos serão, mais do que nos últimos pleitos municipais, os mais importantes eleitores em outubro. Por dois motivos: dinheiro e confiança.
Pesquisa nacional do Ipec (ex-Ibope) mostra que, na média, os atuais prefeitos inspiram mais confiança na população do que o presidente da República: 55 contra 47, numa escala de 0 a 100. A diferença é de oito pontos em favor dos governantes locais.
Esse nível de confiança dos prefeitos, de 55, é o mais alto da série histórica, iniciada em 2009. Desde então, houve três eleições municipais: em 2012, 2016 e 2020. Nota-se uma associação entre nível de confiança e taxa de reeleição. Quanto maior a confiança nos gestores municipais, mais deles se reelegem.
A marca do pleito de 2016, por exemplo, foi a renovação. Era um período de extrema desconfiança dos brasileiros em relação às instituições, e os governos locais não eram exceções.
O índice de confiança dos prefeitos em 2016 era apenas 32, o mais baixo da série histórica. Como resultado, a taxa de reeleição dos prefeitos foi a mais baixa do século: só 46% voltaram para a cadeira de onde comandavam suas cidades. A maioria absoluta não se reelegeu, como o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, derrotado ainda no 1º turno por João Doria.
Quatro anos depois, o ímpeto de renovação na política havia perdido força. Eram tempos de pandemia e incerteza. Os prefeitos foram importantes para se contrapor às políticas de saúde negacionistas e antivacina de Jair Bolsonaro, que ocupava a Presidência da República.
Prefeitos e presidente empatavam em nível de confiança em 2020: o índice do Ipec era de 46 para ambos. Mesmo assim, talvez devido aos efeitos desastrosos do negacionismo presidencial, os incumbentes foram muito mais bem sucedidos na eleição municipal do que Bolsonaro: 63% deles conseguiram se reeleger.
Já dos 18 candidatos a prefeito que foram explicitamente apoiados pelo presidente naquele ano, apenas cinco conseguiram se eleger: taxa de sucesso de pífios 28%. Foi um fiasco. Os candidatos de Bolsonaro perderam no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, entre outras capitais e grandes cidades.
Os atuais governantes municipais entram na campanha eleitoral de 2024 com um nível de confiança nove pontos mais alto do que o de quatro anos atrás. É um forte indicativo de que sua taxa de sucesso nas eleições deste ano tende a ser ainda mais alta do que a do pleito passado. É possível que alcance ou até supere a da eleição de 2008, quando 69% dos prefeitos se reelegeram.
Uma das principais explicações para esse fenômeno é dinheiro. Os cofres municipais foram inundados como nunca por verbas de emendas parlamentares ao orçamento da União. Foram dezenas de bilhões de reais enviados por deputados e senadores para serem gastos por seus apadrinhados nos municípios nos últimos anos.
Essa apropriação do dinheiro federal pelos congressistas mudou a correlação de forças entre o Executivo e o Legislativo, em benefício, principalmente, dos partidos fisiológicos do Arenão liderados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Isso certamente terá um grande impacto no resultado das urnas.
Ao mesmo tempo que a Presidência perdeu poder para o Congresso, o nível de confiança no presidente Lula está em 47, apenas um ponto a mais do que tinha Bolsonaro quatro anos atrás. O nível de confiança atual em Lula é 22 pontos menor do que o que ele tinha em 2010, último ano do seu segundo mandato. E é 16 pontos menor do que o nível de confiança em Dilma Rousseff em 2012, ano em que o PT elegeu Haddad prefeito em São Paulo, por exemplo.
Tudo indica que:
- Lula terá trabalho para não repetir o fiasco de Bolsonaro em 2020;
- Os atuais prefeitos deverão comemorar este ano com seus padrinhos deputados e senadores uma taxa de reeleição raramente vista;
- Partidos fisiológicos beneficiados por mais emendas ao orçamento devem crescer em número de prefeitos e vereadores, que se tornarão cabos eleitorais importantes para essas siglas voltarem ainda mais fortes após a eleição parlamentar de 2026.
A cifra da semana: 40 dólares
Esse valor garante 15 segundos de fama para qualquer pessoa. É quanto custa para estampar uma foto ou vídeo contra ou a favor de alguém num painel luminoso gigante na Times Square, em Nova York. A imagem só aparece lá por 15 segundos, mas é o suficiente para o autor da publicação virar notícia.
Foi o que aconteceu com um das centenas de memes contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tentam transformá-lo em "Taxadd", ou, como dizia o meme publicado no painel na Times Square, em "Taxa Humana". A imagem do meme exportado para os EUA bastou para veículos de mídia brasileiros transformarem uma imagem entre 5 mil que se alteram por dia em notícia.
A campanha de memes contra Haddad é profissional, mas não é orgânica. O tema das taxas teve seu auge nas redes sociais em maio, devido à chamada "taxa das blusinhas", que incide sobre importações de bens de consumo baratos.
Desde maio, o interesse e o engajamento em torno do tema vêm caindo, mas a campanha de memes nas últimas semanas conseguiu uma repercussão desproporcional ao seu alcance de fato. Foram 40 dólares para colocá-la na Times Square, mas certamente custou muito mais para produzir as centenas de memes contra o ministro.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.
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