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Thaís Oyama

Bolsonaro tomou maracugina?

Colunista do UOL

02/07/2020 13h48

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"Ninguém controla o Bolsonaro"

Até bem pouco tempo atrás, essa era a frase que se ouvia de assessores quando perguntados sobre os motivos que levavam o chefe a criar uma crise por dia no governo. Isso foi até há bem pouco tempo - mais precisamente, até quinze dias atrás.

No dia 17 de junho, quando o Supremo Tribunal Federal autorizou operações de busca e apreensão contra deputados e blogueiros bolsonaristas, o presidente afirmou que os magistrados estavam "abusando" e que se aproximava "a hora de tudo ser colocado no devido lugar".

No seguinte, Fabrício Queiroz foi preso. Desde então, Bolsonaro se calou.

Parou de ameaçar o Supremo, de dizer "basta" e "chega" e de bravatear no cercadinho do Palácio do Alvorada contra governadores, juízes e jornais.

Mais que isso, no dia 25, quando abriu a boca, usou-a para fazer um bonito discurso pela "paz e tranquilidade do Brasil".

O presidente do STF estava presente na cerimônia, mas para que não pairassem dúvidas sobre a extensão da bandeira branca, Bolsonaro reiterou: "Obviamente entra mais gente nesse entendimento, que são os deputados, senadores, os demais ministros do Supremo, nossos colegas do Superior Tribunal de Justiça, servidores".

Bolsonaro encontrou a sua estrada de Damasco?

Tomou banho de maracugina?

Nada disso.

O cerco da Justiça ao filho Flávio é o primeiro e mais óbvio motivo da súbita conversão do presidente ao comedimento e à razão.

O segundo motivo são os aconselhamentos que o ex-capitão vem recebendo.

E desta vez eles não partem de olavistas nem de militares, mas de próceres do Centrão como o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

O presidente do PSD já esteve um par de vezes no Planalto no último mês. Tem compartilhado com o presidente sua larga experiência nos pantanosos campos da política e em outros também.

Kassab é investigado em inquérito que o STF remeteu à Justiça Eleitoral por recebimento de vantagens indevidas (a ação se baseia em declarações de dirigentes da empresa JBS). É também réu por improbidade administrativa na Justiça de São Paulo numa ação originada na Lava Jato (o ex-prefeito teria recebido R$ 21 milhões da Odebrecht em caixa 2).

"Ninguém controla o Bolsonaro". Pode ser que o axioma continue valendo.

Mas o que é a cabeça-dura de um homem diante do seu instinto de sobrevivência?