Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Caso da vacina da Pfizer reforça: Bolsonaro é o novo Idi Amin Dada
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Jair Bolsonaro contribuiu para o aumento das mortes por coronavírus minimizando a pandemia, boicotando medidas de combate à sua disseminação, estimulando comportamentos de risco, prescrevendo medicamentos inócuos e insinuando a existência de efeitos colaterais inexistentes nos imunizantes.
Mas é a (não) compra de vacinas como a da Pfizer que caracteriza aquilo que, na área criminal, se chamaria de "materialidade do delito" - a ação criminosa documentada, que deixa vestígios concretos.
Caso o governo não tivesse feito ouvidos moucos à proposta de venda que a Pfizer apresentou em agosto de 2020, o Brasil poderia estar recebendo o imunizante desde dezembro do ano passado e teria, até junho deste ano — ou seja, daqui a três meses— 70 milhões de doses disponíveis para proteger a população da covid-19.
A Pfizer formalizou a sua proposta de venda da vacina para o governo brasileiro pela primeira vez em agosto de 2020. Ela previa a entrega de 500 mil doses ainda em 2020 e o restante até o fim do primeiro semestre de 2021.
Dois meses depois, em entrevista à revista Veja, o CEO da farmacêutica no Brasil, Carlos Murillo, relatou qual foi o retorno que a farmacêutica obteve: "Nunca recebemos uma resposta formal do governo brasileiro, nem pelo sim nem pelo não". A Pfizer chegou a refazer sua oferta ao menos duas vezes, todas elas na direção de apressar a entrega das doses.
Nos meses de negociação que se seguiram, o governo federal alternou corpo mole com implicâncias relativas a cláusulas que cerca de 30 outros países compradores da vacina da Pfizer aceitaram sem problemas.
Apenas ontem, e apenas por ter sido confrontado com a possibilidade de ser passado para trás pela iniciativa privada, o governo anunciou um "acordo inicial" com a farmacêutica sediada nos Estados Unidos. O contrato, que ainda não foi assinado, prevê a entrega de 100 milhões de doses até dezembro deste ano.
Desde 14 de agosto de 2020, data da primeira proposta que o governo desprezou, mais de 140 mil brasileiros morreram infectados pela covid-19 - e muitos mais morrerão até dezembro, quando a farmacêutica finalmente entregar o seu último lote.
A situação calamitosa do Brasil ganha as manchetes do mundo. No topo delas, figura invariavelmente o nome de Jair Bolsonaro, atualmente o chefe de estado mais abominado no planeta. Diz o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda do governo Itamar, Rubens Ricupero:
"Hoje, aos olhos do mundo, Bolsonaro ocupa o mesmo lugar que foi de Idi Amin Dada".
Como bem faria o sinistro, histriônico e sanguinário ditador africano que governou Uganda nos anos 70, Bolsonaro se farta de leitão no espeto e gargalha na mesa no dia em que 1 726 brasileiros morrem de covid-19. Também ao estilo do tirano ugandense, manda fabricar milhões de comprimidos de medicamentos inócuos e envia comitivas ao exterior em busca de sprays "milagrosos".
Enquanto isso, seu filho, réu na Justiça por peculato e lavagem de dinheiro, compra uma mansão em Brasília com oito vagas na garagem e forrada de mármore carrara.
Só resta aparecerem as torneiras banhadas a ouro. Cadáveres já não faltam.
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