Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Centrão pressiona contra Queiroga: Saúde tem dois ministros e zero comando
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No pior momento da pandemia, o ministério da Saúde tem dois ministros e nenhum comando.
Eduardo Pazuello, o ministro demitido, não pode ser exonerado oficialmente porque, antes disso, o presidente Bolsonaro quer encontrar para ele outra pasta, de forma a evitar que o general perca o foro privilegiado —ministros têm a prerrogativa de serem processados apenas no âmbito do Supremo Tribunal Federal, o que os livra, por exemplo, do risco de ter a prisão decretada por juízes de primeira instância (e, sim, já ouvimos história parecida em outro governo).
Já o novo ministro, o cardiologista Marcelo Queiroga, ainda não assumiu o posto sobretudo porque existe uma tremenda pressão do centrão para que isso não ocorra.
A indicação de Queiroga, feita pelo filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro, ainda não foi digerida pelo centrão - e não apenas porque Queiroga está fora da área de influência do bloco.
O fato de, oito dias depois de ter seu nome anunciado, Queiroga ter se limitado a prometer a "continuidade" da gestão Pazuello, sem apresentar um esboço mínimo do seu plano para a pasta, além de caminhar atrás do general em ovino silêncio na visita à Fiocruz, tirou de lideranças da Câmara qualquer esperança de que o novo ministro esteja disposto a finalmente levar a ferro e fogo o combate à pandemia.
Com a desculpa esfarrapada de que o médico precisa se desvencilhar de seus compromissos profissionais para assumir o ministério, o governo já adiou sua posse duas vezes.
Enquanto isso, o racionamento do estoque de sedativos vem fazendo com que pacientes graves de covid recobrem a consciência no meio da intubação, como mostrou reportagem do UOL, e o número de mortes pela doença bate recordes um dia atrás do outro - o inferno é o limite: a Fiocruz já diz que o Brasil pode atingir em breve a inacreditável marca de 5 mil mortes por dia.
Amanhã, as atenções em Brasília estarão voltadas para a reunião que o presidente Jair Bolsonaro terá no Palácio da Alvorada com as cúpulas dos poderes Legislativo e do Judiciário.
A reunião foi organizada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), como derradeira tentativa de aplacar os ânimos no Congresso e conseguir barrar a CPI da Covid, que o governo quer evitar a todo custo.
O encontro servirá para anunciar a criação de um protocolar "gabinete de emergência", com o propósito de mostrar um inexistente interesse do governo federal em integrar os poderes no combate à pandemia e assim tentar amenizar o desgaste de imagem de Bolsonaro com a escalada de mortes.
Um ex-ministro de governo, conhecedor de Bolsonaro e do centrão, prevê que as duas partes acabarão se acertando e Queiroga finalmente tomará posse, ainda que não deva "durar muito no cargo". O presidente irá se comportar bem no encontro, provavelmente aparecerá de máscara e fará um discurso de união, pretendendo parecer uma liderança a conduzir o seu país num momento de crise.
No dia seguinte, porém, na primeira fala a apoiadores no cercadinho do Alvorada, dirá tudo ao contrário, e seguirá fazendo o que fez até agora: contribuir com palavras e gestos para a abertura de mais e mais covas, e para o surgimento de mais e mais tragédias familiares, daquelas que se seguem a cada vez que o marcador das mortes vira de novo.
Amanhã, as atenções em Brasília estarão voltadas para a reunião no Alvorada. Mas gente como o ex-ministro guarda poucas expectativas sobre ela: "O problema de Bolsonaro não é reunião, o problema dele é o dia seguinte".
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