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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Temor de traição de Garcia fez Doria querer ficar; senha foi dada dia 13

Rodrigo Garcia e João Doria: acordo quebrado - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Rodrigo Garcia e João Doria: acordo quebrado Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Colunista do UOL

31/03/2022 11h00

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João Doria sabia há tempos que a sua candidatura à Presidência da República estava rifada pela cúpula do PSDB.

Sabia também que nunca foi e nem seria o nome favorito do grupo que articula a escolha de um nome único para a chamada terceira via, e que reúne, além do seu partido, o MDB, União Brasil e Cidadania.

Mas o fato novo que empurrou o governador de São Paulo para o anúncio de que desistirá de concorrer à Presidência para ficar no cargo — anúncio este ainda a ser confirmado — foi a convicção de que Rodrigo Garcia o trairia assim que assumisse a sua cadeira.

O vice-governador Garcia deixou o DEM no ano passado para filiar-se ao PSDB com a promessa de ser o candidato à sucessão de Doria.

Ocorre que, diante da fraca avaliação do tucano nas pesquisas, tanto como governador quanto como candidato à Presidência, aliados de Garcia começaram a sussurrar-lhe aos ouvidos que ele precisava afastar-se de Doria para viabilizar sua candidatura.

A impressão de que o vice-governador estaria disposto a acatar as sugestões dos aliados logo se consolidou. "Já se dizia que, no dia em que assumisse o governo, o Rodrigo Garcia deixaria de atender o Doria ao telefone", conta um tucano da cúpula do partido.

Doria sentiu o cheiro de traição no ar.

No último dia 13, quando recebeu em sua casa em São Paulo os presidentes do MDB, Baleia Rossi; do União Brasil, Luciano Bivar; e do PSDB, Bruno Araújo; Doria acenou pela primeira vez com a ameaça de não mais sair do governo, deixando o cargo e a máquina aos cuidados de Rodrigo Garcia.

Sabia que para o PSDB, sua atitude resultaria no aprofundamento da crise que arrisca deixar o partido em frangalhos.

Sabia também que, para o MDB e o União Brasil, as consequências do seu "fico" seriam ainda piores: significariam a explosão do palanque das siglas em São Paulo — no final do ano passado, os dois partidos selaram apoio à candidatura de Garcia, numa aliança que hoje envolve mais de 400 prefeitos e uma infinidade de deputados estaduais.

Tanto Bivar quanto Baleia Rossi saíram da reunião na casa de Doria alarmados, mas céticos quanto à possibilidade de o governador cumprir sua ameaça.

Ontem à noite, como revelou a Folha de S. Paulo, Doria deu sua cartada final. Se blefa ou não é o que se saberá em breve.