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Com embaixadores, Bolsonaro quis fazer o Judiciário jogar o seu jogo
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Desesperado, sim. Irracional, não.
O presidente Jair Bolsonaro reuniu embaixadores de dezenas de países para criticar o sistema eleitoral brasileiro em evento que foi chamado de "constrangedor", "patético" e "ridículo".
Para políticos e analistas, a performance do ex-capitão teve um objetivo claro (emular o ex-colega americano Donald Trump, que, ao semear dúvidas sobre a lisura da eleição que perdeu, tentou plantar o descrédito do resultado e colheu a tempestade da invasão do Capitólio) e uma consequência inevitável (a de produzir mais um vexame diplomático do Brasil, outra vez em escala global).
Há outra forma de enxergar a reunião convocada por Bolsonaro com os embaixadores.
Nela, o presidente não se contentou em voltar a atacar a eficiência das urnas eletrônicas — atirou pessoal e pesadamente contra três ministros do Supremo.
"O ministro Fachin foi quem tornou Lula elegível e agora é presidente do TSE", disse a respeito de Edson Fachin, responsável pela decisão de anular as condenações do ex-presidente petista na Lava-jato.
"O ministro Alexandre de Moraes advogou para grupos que, se eu fosse advogado, eu não advogaria", declarou, numa tentativa de trazer à tona a falsa acusação de que Moraes defendeu uma facção criminosa de São Paulo.
"O ministro [Luís Roberto] Barroso foi advogado do terrorista Battisti e recebeu aqui o acolhimento do presidente Lula, em dezembro de 2010". E para que não restasse dúvidas sobre o que queria dizer com a frase, reiterou: "Graças a isso (o trabalho na defesa de Cesare Battisti), certamente, Barroso ganhou a confiança do Partido dos Trabalhadores e depois foi indicado a uma vaga ao STF".
Ao chamar os ministros para a guerra, o que Jair Bolsonaro tentou fazer foi emparedar o Judiciário, que agora ou bem determina sanções contra o presidente, e assim escala uma crise de proporções já alpinas, ou engole os seus impropérios—desde ontem publicados e veiculados mundo afora.
Para um candidato que corre o sério risco de ser o primeiro presidente não reeleito do Brasil (não obstante o faustiano pacto com o centrão e a derrama de dinheiro na PEC apelidada de "Emergência Eleitoral"), uma decisão judicial que ameaçasse atrapalhar sua candidatura poderia, neste momento, representar uma última e desesperada saída.
Bolsonaro quer fazer o Judiciário jogar o seu jogo. E no campo do ex-capitão, quanto mais o fogo arder, melhor.
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