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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula fala de mulheres, chama Bolsonaro de "tenente" e mira primeiro turno

Lula e a mulher, Janja, em Manaus: campanha afinada                              -                                 REPRODUÇÃO
Lula e a mulher, Janja, em Manaus: campanha afinada Imagem: REPRODUÇÃO

Colunista do UOL

01/09/2022 12h00

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Lula foi rápido no gatilho.

A propaganda do petista que foi ao ar hoje pela manhã nas rádios, bem como suas falas de ontem em Manaus, mostram que o ex-presidente está atento às pesquisas, soube aproveitar as falhas do adversário e tenta agora corrigir as suas.

No último domingo, durante o primeiro debate presidencial, o presidente Jair Bolsonaro (PL), mal avaliado pelo eleitorado feminino, desferiu ataques contra a jornalista Vera Magalhães e a candidata à presidência Simone Tebet (MDB). O ex-presidente Lula, por seu lado, foi criticado pela tibieza com que respondeu à pergunta de Bolsonaro sobre a corrupção na Petrobras durante o governo do PT.

Hoje, no horário eleitoral do rádio, Lula explorou as falas de seu adversário contra as mulheres e pôs a esposa pela primeira vez no ar. A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, afirmou: "Sabemos das dificuldades que nós, mulheres, enfrentamos atualmente. São milhões de mulheres endividadas para levar alimentos para suas famílias (...). Mudar essa realidade é uma luta de todas nós".

Ontem, em entrevista a uma rádio do Pará, o petista acusou Bolsonaro de "jogar para baixo do tapete" as acusações de corrupção contra os seus filhos, Flávio e Carlos Bolsonaro e afirmou que o presidente "colocou a mulher", Michelle Bolsonaro, "para dizer que ele levou água para o povo beber", em referência à obra de transposição do São Francisco, iniciada no seu governo.

À noite, em discurso no comício que fez em Manaus, atacou diversas vezes o presidente por mentir e só se referiu a ele como "esse tenente" (Bolsonaro, que fez carreira no Exército, foi para a reserva com a patente de capitão).

A cúpula de campanha do PT ainda acredita na possibilidade de Lula ganhar no primeiro turno e está investindo todas as suas fichas nisso.

O partido vem despachando emissários para dizer a empresários que o Brasil não precisa correr o "risco" de um segundo turno "sujeito a turbulências institucionais".

Colocou como uma de suas prioridades máxima a conquista do eleitorado religioso por meio da ação dos "comitês evangélicos" criados nos estados.

E não se vexou em apropriar-se do carro-chefe da campanha do adversário Ciro Gomes (PDT) que, mirando o eleitor endividado, vinha prometendo "limpar" seu nome no Serasa, o cadastro de brasileiros em débito.

Lula dá sua arrancada final com a faca nos dentes, foco nas pesquisas e uma campanha afinada.

Enquanto isso, o QG bolsonarista bate cabeça.

Lá, a disputa entre os grupos começa em quem tem mais acesso ao presidente (se os publicitários Duda ou Sérgio Lima, de mesmo sobrenome e tudo o mais diferente) até qual Bolsonaro será apresentado ao eleitor — o ex-deputado "boa gente", que gargalha e conta piadas em entrevistas na internet, ou o que brada na TV que o "ex-presidiário Lula vai transformar o Brasil numa Venezuela"?

O resultado do embate é que, entre os estilhaços de fogo amigo, perde-se tempo e acumulam-se improvisos, incluindo altercações para derrubar propagandas do horário eleitoral na última hora.

Na marcha para o dia 2 de outubro, a tropa lulista caminha em forma. Já na do "tenente", os soldados se estapeiam e o comandante dá tiros no pé.

As pesquisas não estimulam a esperança lulista sobre a vitória no primeiro turno, mas Bolsonaro e seus aliados têm conseguido manter essa chama no PT acesa.