Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A crer em Torres e Valdemar, Brasília teve "chuva" de minutas golpistas
![O ex-secretário de Segurança do DF Anderson Torres, que foi ministro da Justiça no governo Bolsonaro (ao lado) - Divulgação/Carolina Antunes/Presidência da República](https://conteudo.imguol.com.br/c/parceiros/a0/2023/01/20/anderson-torres-foi-ministro-da-justica-no-governo-de-jair-bolsonaro-1674208684831_v2_450x600.jpg)
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Anderson Torres, o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal preso sob acusação de ter se omitido diante dos atos extremistas de 8 de janeiro, irá falar à polícia na próxima segunda-feira.
Sobre o principal assunto do depoimento, a origem da "minuta do golpe" encontrada em sua casa, o ex-secretário — como antecipa Juliana Dal Piva em sua coluna de hoje— dirá aos investigadores que não se recorda de como o papel foi parar em seu armário, já que a todo momento chegavam a ele documentos de teor semelhante.
Em entrevista dada hoje à rádio CBN, Valdemar Costa Neto declarou coisa parecida: "Vários documentos [como o encontrado na casa de Torres] circularam", disse o presidente do PL. "Vinha proposta de todo lugar (...) Tinha gente que preparava isso e mandava pra gente, advogado, advogada".
Perguntado se a partir dessas "propostas", Valdemar, a exemplo de Torres, também teria formulado uma minuta golpista que mantinha dentro de casa, o dirigente do partido de Jair Bolsonaro negou a hipótese singelamente: "Não, eu tinha o cuidado de por tudo no moedor".
A crer no que dizem Torres e Valdemar, a capital federal do país foi acometida nos últimos meses por uma chuva de minutas golpistas para as quais, surpreendentemente, ninguém dava bola — a reação dos destinatários variava apenas entre guardar as propostas inconstitucionais no armário ou livrar-se delas lançando-as no triturador de papeis.
Evidentemente, a fala de Valdemar não passou de uma tentativa de minimizar as acusações que pesam sobre o ex-secretário e não o coloca na mesma situação que ele. No caso de Torres, especialistas já arriscam dizer que a prevaricação é o crime menos grave ao qual terá de responder. Alguns dos outros são tentativa de golpe de estado, abolição violenta do estado democrático de direito e associação criminosa.
Mas, para além dos desdobramentos políticos e criminais que a investigação sobre Torres possa produzir — incluindo a entrada do ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito— a performance do ex-secretário nos atos extremistas de 8 de janeiro já transformou Brasília.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, planeja entregar na próxima segunda-feira ao presidente Lula um pacote de sugestões de medidas para "federalizar" a segurança da capital federal.
A ideia do pacote é evitar que, numa situação de emergência, Brasília — e principalmente a sua área central, onde ficam o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal — fique "refém" dos comandos de um governo local.
Entre as propostas em estudo que o ministro planeja enviar ao presidente está a de tornar obrigatória a aprovação, pelo Senado, do nome do indicado, pelo governo do DF, para o cargo de secretário de Segurança.
Significa que, se o governo não quer correr o risco de enfrentar um novo 8 de janeiro, menos ainda quer se arriscar a ter na linha de frente outro Anderson Torres.
Dino afirma que nenhuma das sugestões do pacote, que devem incluir ainda a formação de uma guarda nacional permanente para proteger a capital, irá ferir a autonomia da administração do DF.
Bom que seja assim — basta de coisas estranhas descendo do céu de Brasília.
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