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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso das joias sauditas divide aliados de Bolsonaro sobre volta ao Brasil

Colunista do UOL

06/03/2023 12h53

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O caso das joias sauditas dividiu o entorno de Jair Bolsonaro.

Uma parte dos aliados defende que o ex-presidente retorne ao Brasil o mais rápido possível para evitar a "desconstrução de quem, há quatro meses, teve 50% dos votos dos brasileiros", como diz um ex-auxiliar palaciano.

Outra ala considera que, estendendo a sua permanência nos Estados Unidos, Bolsonaro ajudaria a "esfriar" a repercussão do último escândalo e evitaria que o presidente Lula continuasse a "usá-lo para desviar o foco das atenções dos problemas do governo do PT".

As duas alas, porém, concordam em uma questão: do ponto de vista eleitoral, Bolsonaro é página virada — a decretação da inelegibilidade do ex-capitão por parte do Tribunal Superior Eleitoral é dada como fato consumado por conselheiros como o marqueteiro Duda Lima, o ex-chefe da Secom, Fabio Wajngarten, aliados do PL e assessores do ex-presidente no partido, como o general Braga Netto.

A ação iniciada pelo PDT a partir da reunião em que o ex-presidente atacou o sistema eleitoral brasileiro diante de embaixadores estrangeiros está na etapa final — como o ministro relator Benedito Gonçalves não fez qualquer novo pedido às partes, defesa e acusação aguardam que ele peça as alegações finais nas próximas semanas, de modo que o julgamento no plenário do TSE se dê antes da aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski e da sua substituição por Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro.

Diante do iminente impedimento eleitoral de Bolsonaro, a preocupação de aliados é preservar o seu capital político de modo a transferi-lo a um sucessor nas eleições presidenciais de 2026 e aproveitá-lo nas eleições municipais do ano que vem. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, sonha em ver o seu contratado viajando pelo país e reunindo multidões em torno dos coretos das cidades — o cacique estima que o PL possa fazer até 900 prefeitos no ano que vem.

Ocorre que Bolsonaro é indisciplinado, imprevisível e já deu incontestáveis demonstrações de falta de apreço pelo trabalho pesado. Além disso, no âmbito da Justiça, coleciona quatro inquéritos só no Supremo Tribunal Federal, sem contar os que podem estar por vir com a evolução do caso das jóias (a hipótese de crimes de descaminho e lavagem de dinheiro já foi anunciada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino) e com a devassa que o governo Lula promove sobre as suas últimas ações administrativas, com foco nas dezenas de portarias sigilosas que cedo ou tarde acabarão vindo a público.

Se, como força política, o bolsonarismo está muito mais institucionalizado do que em 2017, quando o ex-capitão fazia sucesso nos aeroportos brasileiros empunhando sua arminha imaginária, Bolsonaro, como pessoa física, faz agora a trajetória inversa do movimento que leva o seu nome — como ativo eleitoral, tem se mostrado um ótimo agregador de passivos.