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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No agro, Lula ergue a bola para Bolsonaro cortar e reafirma divisão

 Bolsonaro faz selfie em viagem para participar da Agrishow  - Reprodução/Instagram
Bolsonaro faz selfie em viagem para participar da Agrishow Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

02/05/2023 12h38

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Como força econômica, o poder do agronegócio, responsável por quase um quarto do PIB brasileiro, é notório.

Como força eleitoral, o setor representa, por baixo, 15 milhões de votos.

O número é a soma dos eleitores que foram às urnas nas últimas eleições presidenciais e que, segundo a agência de pesquisa Quaest, têm alguma relação com o agronegócio ou declararam ter uma "identidade com o campo".

Foi para esse segmento que o presidente Lula deu uma banana no fim de semana passado.

Ao se fazer ausente na Agrishow, tida como uma das maiores feiras de tecnologia agrícola do mundo, e deixar o território livre para Jair Bolsonaro fazer a festa, o governo petista reafirmou sua opção pela divisão: há o Brasil que está "com ele" e o que está "contra ele" — o agronegócio, que votou majoritariamente em Bolsonaro, encontra-se, claro, na segunda categoria.

"Não me preocupo quando dizem que o agro não gosta do Lula. Não quero que gostem, mas que me respeitem", disse o presidente, ainda na campanha, quando também afirmou que que, embora haja "empresários sérios", parte do agronegócio é "fascista e direitista". E já fora do palanque, no dia 8 de janeiro, com os destroços do ataque bolsonarista ainda fumegantes, soltou, sem que ninguém lhe perguntasse, que "possivelmente também estava lá" (nos ataques) o "agronegócio maldoso", que "usa agrotóxicos, sem nenhum respeito para a saúde humana".

As falas de Lula não são fruto apenas do ressentimento que ele jura não guardar daqueles que não lhe devotam o justo reconhecimento e nunca o olharam com boa vontade.

Como estratégia eleitoral, o comportamento do presidente é defendido, inclusive, por especialistas em marketing político. Felipe Nunes, da Quaest, por exemplo, considera que a polarização ideológica no Brasil atingiu um grau tal que é inútil o governo Lula tentar atrair o eleitorado que votou em Bolsonaro em 2022 (e que melhor fará ele se focar nos eleitores sem convicções políticas, como os mais de 20% dos brasileiros que não foram às urnas).

Lula, ao direcionar as falas para a sua base e desdenhar do eleitorado afinado com o adversário, sinaliza compartilhar da tese da polarização inevitável.

E se ela é uma realidade do ponto de vista eleitoral, prenuncia turbulências num horizonte próximo — será na base do "nós contra eles" que as principais questões do país, como a anunciada reforma agrária, tenderão a ser tratadas.