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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O caso da gravata de Janja e a popularidade digital de Lula e Bolsonaro

A primeira-dama, Janja, na loja Ermenegildo Zegna, em Lisboa, onde comprou gravata de R$ 1.000 para Lula  - Reprodução Twitter
A primeira-dama, Janja, na loja Ermenegildo Zegna, em Lisboa, onde comprou gravata de R$ 1.000 para Lula Imagem: Reprodução Twitter

Colunista do UOL

15/06/2023 12h03

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Levantamento da Quaest mostra que, entre abril e junho, a popularidade de Lula na internet teve dois picos: o primeiro, fácil de entender, se deu quando o governo anunciou o aumento do salário mínimo, em 30 de abril.

O segundo ocorreu durante a viagem do presidente a Portugal, no mesmo mês.

Nesse segundo caso, Lula não caiu nas boas graças da internet por causa dos 13 acordos que fechou com o governo de Portugal nem em função dos discursos que fez por lá.

A popularidade de Lula subiu, segundo o coordenador da pesquisa, Felipe Nunes, porque a compra de uma gravata de R$ 1.000 pela primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, criou um típico evento digital que terminou bem para o presidente.

O evento foi "típico" porque 1) nasceu de um vídeo (Janja foi filmada entrando na loja Ermenegildo Zegna, em Lisboa, e saindo de lá com uma sacola); 2) o vídeo viralizou; 3) o caso seguiu alimentado por uma postagem da primeira-dama (que em sua conta no Twitter mostrou o produto da compra e o marido de gravata nova); e 4) influenciadores e artistas apoiadores de Lula entraram em campo para rebater as críticas feitas por opositores, invertendo o placar nas redes inicialmente desfavorável ao petista.

Na ponta oposta, o momento em que Lula se saiu pior nas redes, no período analisado pela pesquisa, foi quando usou de uma acusação infundada para atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em maio, durante viagem ao Nordeste, quando dedicou uma bateria de discursos ao ex-adversário de campanha, Lula afirmou que um imóvel pertencente à família do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, poderia ser, na verdade, do ex-capitão.

"Agora mesmo acabaram de descobrir uma casa de US$ 8 milhões do ajudante de ordem do Bolsonaro. Certamente uma casa de US$ 8 milhões não é para o ajudante de ordem, certamente é para o paladino da discórdia, da ignorância, do negacionismo", disse.

Bolsonaro prometeu acionar Lula na Justiça e os bolsonaristas, que por causa do escândalo das joias andavam mais silenciosos que de hábito, rugiram nas redes e derrubaram em 30 pontos a popularidade digital de Lula (o índice da Quaest varia de 0 a 100 pontos).

Desses episódios é possível tirar duas conclusões.

A primeira é que a base lulista, menos engajada nas redes do que a bolsonarista, só se levanta da arquibancada em condições excepcionais — diante de uma notícia positiva de forte impacto econômico, como o aumento do salário mínimo, ou de um episódio "gramaticalmente" compreensível (um vídeo com a primeira-dama levando uma gravata cara para o marido, que acaba "comprado" por artistas capazes de influenciar positivamente um grande número de seguidores).

A segunda conclusão se refere à popularidade de Bolsonaro. Em forte baixa quando comparada à de 2019, ela ainda é capaz de se erguer diante de uma boa oportunidade — como uma acusação sem lastro feita pelo presidente-adversário. "O bolsonarismo nas redes é um urso em estado de hibernação", diz Felipe Nunes.

Como já percebeu (e disse) Lula, ter domínio, autoridade e poder implica deter uma narrativa que se impõe.

Lula e seu governo permanecem analógicos na essência. Já o bolsonarismo apenas está dando um cochilo.