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Lu Alckmin: 'candidato ao governo, vice de Lula ou nada, estou com Geraldo'
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Quando as netas chegam em dia de dormir no apartamento da família Alckmin, na região do Morumbi, em São Paulo, o patriarca Geraldo Alckmin, 69 anos, sabe que naquela noite terá que se dirigir ao quarto ao lado.
Isso porque a cama que divide há 42 anos com a esposa Maria Lúcia Alckmin, 70, a dona Lu, estará ocupada pelas crianças na rotina de desenhos e leitura de histórias infantis com a avó.
"Cada neta fica enroscada em uma perna", ela conta.
Desde que deixou o Palácio dos Bandeirantes, há três anos, dona Lu aprendeu a cozinhar - torta de frango e sopa (com bastante salsinha) tornaram-se especialidades. Matriculou-se na aula de natação perto de casa e conseguiu estar ainda mais disponível para os sete netos que os filhos do casamento com Geraldo lhe deram.
É por isso que se torna inevitável a pergunta diante das discussões sobre a extravagante aliança Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB, ainda) nas eleições 2022. Como ficaria a vida diante de um cenário como este? Considera trocar a nova vida em São Paulo por Brasília, caso o resultado das urnas lhes seja favorável?
As coisas acontecem de acordo com as circunstâncias. Se o Geraldo for alguma coisa, se for governador, se for candidato a vice do Lula, como se lê nos jornais, estou com ele de qualquer forma. Como sempre estive"
Lu Alckmin
O repórter insiste. Um palanque com Lula e Alckmin, juntos, é algo que a senhora conseguiria um dia imaginar?
"Burro, ele não é. Ele tem uma capacidade muito grande de percepção das coisas, de mundo. Mas não dou meu palpite, isso não é da minha conta. O que ele decidir, estou com ele".
Vida no campo
Até mesmo se ele decidir deixar tudo para lá e mudar-se para o sítio deles em Pindamonhangaba, no interior paulista, ela diz que topa. Dona Lu não quer mesmo é falar publicamente sobre política.
Diz que sempre foi assim, desde a época das campanhas do namorado então vereador de Pinda, apelido carinhoso da cidade natal de ambos. Era um tempo em que ela recolhia os santinhos amassados de Geraldo que encontrava pelo chão e os repassava a potenciais eleitores ("Mas antes a gente desamassava, claro").
Uma possível aliança entre Lula e Alckmin começou lançada no último mês em tubo de ensaio na forma de notas em colunas sociais, mas segue viva na agenda política. É alimentada discretamente pelos dois políticos, que parecem desejar ver onde isso vai dar ou encontraram um jeito de despistar onde realmente querem estar.
O próximo capítulo virá no aguardado anúncio sobre o destino partidário do ex-governador paulista, que pretende deixar o PSDB. Estão na mesa opções como o PSB e o PSD (mais prováveis), além do Solidariedade (menos provável).
Em todos eles, a possibilidade de aliança com o PT de Lula parece fazer parte das negociações.
Dona Lu não abre o jogo, mas dá pistas. Afinal, Geraldo já se decidiu sobre o que vai fazer e aguarda o melhor momento para anunciar? Ou tudo está em aberto?
"Tudo está em aberto", ela diz.
Dona Marisa
Dona Lu conta que teve ótima impressão da ex-esposa de Lula, dona Marisa, quando topou com ela em encontros sociais ou cerimônias.
"Gostava muito dela. Estive com ela algumas vezes, era uma mulher boa", relata.
Ex-gestora de projetos sociais do Fundo Social de São Paulo, na condição de primeira-dama do estado em dois períodos (2001-2006 e 2011-2018), parece se animar com a ideia de reviver a experiência pensando em iniciativas nacionais. Gosta de falar sobre os projetos profissionalizantes que tocou.
Mas dá sinais trocados sobre suas impressões das políticas sociais lulistas, quando o repórter elogia, por exemplo, as iniciativas de ampliação de vagas em universidades.
"Mais importante do que a faculdade, é o ensino médio, o investimento na base", opina.
Pensaria o mesmo sobre as políticas de distribuição de renda do PT?
"Fundamental é que as pessoas tenham emprego. Ninguém quer esmola. E para gerar emprego, as pessoas precisam ter dinheiro para poder consumir. É preciso dar dignidade a elas", segue.
Rota de luz
Embora converse com o marido sobre todos os assuntos, inclusive política, o que realmente a empolga é falar sobre a Rota da Luz - trajeto desenhado há cinco anos pelo governo de São Paulo, sob sua influência, para que romeiros percorram a pé os 218 quilômetros de Mogi das Cruzes (SP) à Basílica de Nossa Senhora, em Aparecida (SP), com mais segurança.
O caminho foi inaugurado em abril de 2016, no aniversário de um ano da morte do filho Thomaz Rodrigues Alckmin, vítima de um acidente de helicóptero aos 31 anos.
Naquele ano Dona Lu decidiu percorrer todo o trajeto a pé, de ponta a ponta. Uma unha do pé caiu, mas a disposição de seguir até o fim não foi afetada.
"Meu filho não foi comigo fisicamente, mas foi espiritualmente. Ele esteve o tempo todo comigo. Por isso eu sinto a presença dele todas as vezes (em que faço o trajeto)", diz ela, que descreve a sensação da vida passando em retrospectiva como uma das mais marcantes da caminhada.
Mais do que um lugar de professar a fé, o trajeto é um lugar de encontro das pessoas com elas próprias, segundo o relato de algumas que já o percorreram.
No grupo que dona Lu integra estão outras mães que lidam com o luto de perdas difíceis, gente que agradece por coisas boas que conseguiram na vida.
"Sempre choro muito no caminho, é muita emoção, não é? Parece que tudo aquilo (que vivi diante da morte do Thomaz) volta", conta dona Lu.
Encontro com a fé
Até o início da pandemia, pelo menos 3 mil pessoas tinham percorrido o trajeto, segundo registros oficiais. Uma associação de amigos da rota foi criada para tornar perene o apoio aos que desejam percorrê-la, seja por motivos religiosos ou de qualquer outra natureza.
"Eu tenho uma fé inabalada em Deus, de que ele (Thomaz) está bem, que todos nós temos uma missão para cumprir aqui na Terra", diz ela, que aos 70 anos se prepara para mais uma vez percorrer a rota em abril do ano que vem. Talvez não toda ela a pé, mas pelo menos uma parte dela.
Em abril o marido já deverá ter decidido seu futuro político e o país já saberá se a aliança com Lula era a sério ou não passou de uma brincadeira.
Antes de ir embora, uma última tentativa do repórter de colher pistas sobre a reputação do petista na família Alckmin:
Já votou em Lula alguma vez?
"Não me lembro", ela diz.
De 0 a 10, que nota daria aos governos Lula?
"Pergunte ao Geraldo".
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