Thiago Herdy

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Reportagem

Empresário que alugou imóvel a Nunes é campeão de contratos emergenciais

O empresário Fernando Marsiarelli, dono do imóvel onde o prefeito Ricardo Nunes morou em 2022 durante o período de reforma de sua casa, é dono da firma que mais assinou contratos emergenciais, ou seja, sem licitação, durante os quatro primeiros anos da gestão do prefeito.

De acordo com dados divulgados pela própria prefeitura, a F.F.L. Sinalização, Comércio e Serviços Ltda. assinou contratos entre 2021 e 2024 que somaram R$ 624,1 milhões para recuperação de pontes, sistemas de drenagem e contenção de córregos de rios na cidade.

Este é o maior valor pago individualmente pela Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras) durante a gestão Nunes, a uma empresa para realizar obras sem licitação. Em quatro anos, Nunes gastou R$ 5,5 bilhões em obras desta modalidade.

A ocupação de um imóvel do dono da F.F.L. pelo prefeito da cidade foi noticiada nesta sexta-feira pela Folha de S.Paulo.

O segundo lugar neste ranking é ocupado pela empresa B&B Engenharia e Construções (R$ 467,7 milhões).

O Ministério Público de São Paulo investiga indícios de combinação entre as empresas convidadas a realizar as obras na cidade, entre elas a F.F.L.

A apuração é motivada por reportagem do UOL que encontrou indícios de conluio em 223 de 307 contratos assinados entre 2021 e 2023.

Dos 23 contratos assinados pela F.F.L. com a Siurb, 20 seguem um padrão de não-competição entre empresas.

O imóvel utilizado por Nunes fica em um edifício com dois apartamentos por andar no bairro Jurubatuba, na zona sul da capital.

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"Infelizes coincidências"

O prefeito disse à Folha que pagou pelo aluguel do imóvel de Marsiarelli em um contrato de natureza particular. Ele negou que exista relação entre os contratos assinados pela sua gestão e atribuiu o fato a uma "grande e infeliz coincidência".

"A locação do apartamento foi tratada exclusiva e diretamente com a imobiliária, sem qualquer intermediário. O prefeito reforça que não conhece o proprietário do imóvel e apenas soube de quem se tratava pela reportagem (da Folha)", informou a assessoria de Nunes na manhã desta sexta-feira (6).

Dois funcionários de sua gestão também moraram em imóvel do mesmo empreiteiro entre 2022 e 2023 e também trataram os episódios como coincidências.

O primeiro é o chefe de gabinete da Siurb na época da assinatura dos contratos sem licitação, Eduardo Olivatto, que morou no mesmo imóvel usado por Nunes logo após sua saída, entre novembro de 2022 e janeiro de 2024.

Em 2024, ele se mudou para um segundo imóvel de Marsiarelli, localizado em um prédio de luxo em Pinheiros.

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Ao UOL, Olivatto disse que não sabia que o empreiteiro era o dono do primeiro imóvel em que ele morou com a família. Afirmou ter ficado sabendo deste fato apenas no momento de assinatura do contrato de locação, por intermédio de sua esposa.

À Folha de S.Paulo, Nunes também atribuiu à esposa a responsabilidade por cuidar da locação do imóvel para a família.

O segundo funcionário do governo a ter relação comercial particular com o fornecedor da prefeitura é um aliado próximo de Nunes e integrante do primeiro escalão da prefeitura, o presidente da Adesampa (Agência São Paulo de Desenvolvimento), Renan Marino Vieira.

Ele vive em um terceiro imóvel de Marsiarelli, localizado no bairro Jardim Taquaral, e também negou ter tido qualquer relacionamento com o empreiteiro além do pagamento de aluguel.

Após a reeleição de Nunes, Olivatto foi exonerado do cargo de chefe de gabinete da Siurb, a pedido.

Marino Vieira segue à frente da Adesampa.

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Ele é investigado em inquérito policial aberto depois que um antigo fornecedor da Adesampa o acusou de pedir propina para que continuasse prestando serviços à agência municipal. Vieira nega a acusação.

Reportagem

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