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Thiago Herdy

REPORTAGEM

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Um quarto dos eleitores de Bolsonaro considera questionar eleição

31.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro em cavalo em frente ao Palácio do Planalto durante manifestação a favor do seu governo em Brasília - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
31.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro em cavalo em frente ao Palácio do Planalto durante manifestação a favor do seu governo em Brasília Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

12/05/2022 16h00

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Oito em cada dez eleitores brasileiros entendem que o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve aceitar o resultado das urnas caso seja derrotado em outubro, de acordo com a última pesquisa do instituto Quaest, patrocinada pela Genial Investimentos.

Ainda assim, o questionamento sobre a integridade das eleições, presente dia sim, dia não, no discurso do presidente, parece introjetado em parcela significativa de seus apoiadores, de acordo com a mesma pesquisa.

Segundo o levantamento, quatro em cada dez eleitores que consideram o governo Bolsonaro "ótimo" entendem que o presidente não deve aceitar o resultado da eleição caso o resultado lhe seja desfavorável.

Entre aqueles que consideram o governo "bom", no entanto, o questionamento ao pleito cai drasticamente: 17% consideram a ideia. Neste grupo, 77% defendem o respeito à vontade das urnas, qualquer que seja o resultado.

No balanço geral de eleitores que já declaram o voto no presidente este ano, 27% acha que eventual derrota não deve ser aceita. O percentual representa mais de um quarto dos seus eleitores.

Outros 68% defendem o respeito às urnas, mesmo que seu candidato seja derrotado.

Foi Bolsonaro quem introduziu o viés golpista entre seus apoiadores? Ou ele deu vazão a um desejo de parcela da sociedade que hoje o apoia?

Ficção engenhosa de nação

Para tentar responder à pergunta, a historiadora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Heloísa Starling evoca o pensamento do intelectual abolicionista Joaquim Nabuco, que no século 19 refletiu sobre nossa "ficção engenhosa de nação".

"Ele dizia uma coisa que só agora me dei conta. Mesmo fundado na independência, o Estado brasileiro foi fundado em cima de uma única estrutura, que é escravidão. Isso gerou uma sociedade desigual, hierárquica, violenta, racista, voltada a privilégios", ela menciona.

E como essa sociedade "lidou com isso ao longo do tempo?", pergunta a historiadora.

"Criou uma epiderme civilizatória. Quando você corta essa pele, o que vem à tona é essa parcela da sociedade reacionária, que apoia o presidente", opina.

Para Starling, a competência política de Bolsonaro reside em sua capacidade de aglutinar isso e transformar em força política. "Ele não cria isso, ele catalisa o sangue de corte desta epiderme", sintetiza.

A historiadora identifica dois grupos distintos atuando em apoio ao presidente: o reacionário ("que vai à rua contra a democracia, que considera inimiga") e o conservador (que se sente ameaçado por políticas ditas progressistas).

Esta diferenciação talvez explique porque os que embarcam no questionamento de eventual resultado das eleições sejam pouco mais de um quarto do eleitorado declarado do presidente.

A pesquisa Genial/Quaest foi feita entre 5 e 8 de maio com 2.000 pessoas, todas elas entrevistadas pessoalmente.