Primeiro debate entre Trump e Biden tem muito barulho e pouca substância
Quem assistiu ao primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden, nesta terça-feira à noite, provavelmente se arrependeu. Nem parecia que estavam no palco o atual presidente e o ex-vice presidente dos Estados Unidos. O que se viu lembrou mais um bate boca na mesa do bar, com pouca ou nenhuma utilidade para os eleitores que escolherão o próximo presidente em 3 de novembro.
E o principal responsável pelo resultado foi Donald Trump, que adotou uma postura agressiva e muitas vezes irritante, constantemente interrompendo o adversário e ignorando as regras do debate. A estratégia até funcionou nos primeiros 15 minutos, enquanto Joe Biden ainda tentava evitar as provocações e não conseguia articular nenhuma resposta coerente.
Mas a paciência do democrata não durou muito, e Biden logo disparou: "Você vai calar a boca, cara?" Momentos depois, outra alfinetada: "É difícil falar qualquer coisa com esse palhaço. Perdão, essa pessoa", disse o ex-vice presidente. Apesar disso, Biden escapou bem das armadilhas de Trump e não cometeu nenhuma das gafes que marcaram sua campanha nas primárias do Partido Democrata.
O nível melhorou um pouco depois que o mediador Chris Wallace, jornalista da FOX News, finalmente interveio. "Senhor Presidente, sua campanha concordou que ambos os lados teriam dois minutos sem interrupções para respostas", lembrou. Trump até esboçou um recuo, mas não abandonou sua estratégia de atrapalhar qualquer tentativa de debate sério e qualificado.
Em desvantagem nas pesquisas faltando pouco mais de um mês para a eleição, o presidente partiu para o ataque contra Joe Biden: "Em 47 meses, eu fiz mais do que você fez em 47 anos". E, como era esperado, voltou a repetir acusações infundadas de corrupção contra o filho do rival, Hunter Biden, a quem também criticou por seu histórico de problemas com drogas: "Foi expulso do exército por usar cocaína".
O atual presidente não perdoou nem membros do seu próprio governo. Questionado sobre sua resposta à pandemia do coronavírus, ironizou Biden por usar "a maior máscara que eu já vi" e atacou o Dr. Anthony Fauci, principal especialista em doenças infecciosas do país. "Ele disse que as máscaras não funcionavam, depois mudou de ideia".
Trump também desfilou uma quantidade incrível de mentiras e afirmações dúbias, passando por quedas inexistentes nos preços de remédios ("Estou conseguindo insulina tão barata quanto água"), seu papel na volta do futebol americano universitário aos campos ("Fui eu quem trouxe o futebol de volta") e seu tema favorito nas últimas semanas: fraude eleitoral ("É uma eleição arranjada").
Talvez em seu pior momento da noite, Trump se recusou a condenar grupos nacionalistas e supremacistas brancos, como os "Proud Boys". Pressionado por Wallace e Biden, ele soltou um tímido pedido para que "recuem e fiquem de prontidão". "Mas alguém tem que fazer alguma coisa sobre antifa e a esquerda porque este não é um problema da direita", emendou.
Biden, por sua vez, também teve alguns momentos preocupantes, principalmente quando tentou se distanciar da ala mais progressista do Partido Democrata. O candidato, por exemplo, se esquivou de propostas como saúde pública gratuita (Medicare For All) e uma nova política ambiental (Green New Deal), encampadas por aliados como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez.
Ele também deixou escapar algumas afirmações falsas, como a questão do déficit comercial com a China (que não cresceu, mas vem caindo na administração Trump) e um suposto aumento em crimes violentos desde 2016 (na verdade, as estatísticas mostram estabilidade), ainda que em número e gravidade muito inferiores às proferidas por Trump.
No entanto, em um debate com muito barulho e pouca substância, Biden provavelmente fez o suficiente para evitar uma reviravolta na corrida pela Casa Branca. Já o desempenho de Trump com certeza agradou sua base de apoio, mas pouco fez para conquistar os eleitores indecisos de que o presidente precisa para virar o jogo na reta final da campanha.
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