Fracasso nos tribunais, denúncias de fraude rendem US$ 207 milhões a Trump
Enquanto os processos de Donald Trump para tentar reverter a derrota para Joe Biden na eleição presidencial dos Estados Unidos fracassam nos tribunais, apoiadores dispostos a financiar sua batalha jurídica enchem os cofres da campanha e os bolsos do presidente.
Entidades políticas associadas a Trump e seus aliados arrecadaram mais de US$ 207 milhões desde 3 de novembro, superando com folga o montante mensal alcançado durante a campanha do presidente à reeleição. Em setembro, por exemplo, a arrecadação total foi em torno de US$ 80 milhões.
Recusando-se a conceder a vitória a Joe Biden e promovendo uma falsa narrativa de que a eleição foi roubada, Trump mantém seus eleitores engajados e prontos para abrir as carteiras. No último mês, sua campanha enviou mais de 400 emails e 100 mensagens de texto pedindo contribuições para o "Fundo Oficial de Defesa Eleitoral".
No entanto, a maior parte dos US$ 207 milhões foi parar nos cofres da campanha de Trump e do comitê nacional do Partido Republicano. E uma parcela ficou com uma entidade chamada Save America, um comitê de ação política (PAC na sigla em inglês) criado por Trump para financiar suas atividades políticas após o fim do mandato.
Leis federais impedem que políticos gastem dinheiro dos PACs em suas próprias campanhas eleitorais. Mas os limites no uso desses recursos não vão muito além disso, o que significa que Donald Trump deixará a Casa Branca com os bolsos cheios.
E enquanto o dinheiro estiver entrando, o presidente continuará contestando a derrota para Joe Biden e atacando a legitimidade das eleições, tentando aproveitar o momento para consolidar apoio na base republicana em torno de sua candidatura à Presidência em 2024.
Trump bombardeia integrantes do próprio partido em estado decisivo
A estratégia agressiva de Trump, porém, ameaça o controle do Senado americano pelo Partido Republicano, que está em jogo no segundo turno das eleições para os dois cargos de senador da Geórgia, em janeiro.
Os republicanos têm garantidos 50 senadores, contra 48 dos democratas, e precisam eleger apenas mais um para assegurar a maioria e o controle do Senado. Já o Partido Democrata, do presidente eleito Joe Biden, precisa vencer as duas corridas na Geórgia para assumir o controle da casa (em caso de empate, a vice-presidente Kamala Harris tem o voto decisivo).
Biden venceu a eleição presidencial no estado por cerca de 12 mil votos de vantagem sobre Trump. Mas o presidente alega fraude na contagem dos votos, culpando uma conspiração envolvendo o governador Brian Kemp e o secretário do estado Brad Raffensperger, que pertencem ao Partido Republicano, o mesmo de Trump.
Uma das advogadas do presidente, Sidney Powell, acusou o governador Brian Kemp de receber suborno da empresa Dominion, especializada em tecnologia para eleições, que teria manipulado dados para mudar grandes quantidades de votos de Trump para Biden.
Estratégia põe em risco peso republicano no Congresso
Em vez de fazer campanha para garantir a reeleição dos senadores David Perdue e Kelly Loeffler, Trump insiste em dizer que foi roubado na Geórgia, minando a confiança dos seus eleitores no processo eleitoral e desencorajando sua participação a poucas semanas do segundo turno.
"Não deve haver segundo turno. Certamente não nas máquinas da Dominion. Acho que os cidadãos da Geórgia não deveriam votar enquanto seu voto não estiver seguro", defendeu Powell, que chegou a criticar os próprios candidatos republicanos por não encamparem suas denúncias de fraude.
A maioria dos republicanos na Geórgia não deve boicotar o segundo turno das eleições para o Senado, mas os resultados do primeiro turno foram apertadíssimos, e as pesquisas apontam a mesma tendência para janeiro. Se 1% dos eleitores republicanos decidirem ficar em casa, as conspirações promovidas por Trump e seus aliados podem fazer a diferença e entregar de bandeja o controle do Senado para os democratas.
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