Topo

UOL Confere

Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Livro exibido por Bolsonaro no Jornal Nacional não foi comprado pelo MEC

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

30/08/2018 01h03

Ao longo desta quarta-feira (29), uma série de postagens circulou nas redes sociais relacionando o livro “Aparelho sexual e Cia.” ao que ficou conhecido pejorativamente como “kit gay”, mas que são conteúdos de combate à homofobia para serem divulgados nas escolas públicas brasileiras. O livro, porém, nunca fez parte de nenhum kit nem foi comprado pelo MEC (Ministério da Educação) para ser distribuído nas escolas públicas.

A relação foi impulsionada pela entrevista do candidato à Presidência Jair Bolsonaro concedida ao Jornal Nacional na noite de terça-feira (28).

O livro apresentado pelo presidenciável na televisão e nas redes sociais é a tradução da obra francesa “Aparelho sexual e Cia.”, lançada no Brasil em 2007 pelo selo juvenil da editora Companhia das Letras. O livro utiliza o conhecido protagonista da série em quadrinhos “Titeuf”, de origem suíça, e seu conteúdo está destinado à orientação sexual de alunos do 6º ao 9º ano, ou seja, de 11 a 15 anos de idade. 

A informação de que o livro da escritora francesa Hélène Bruller seria distribuído em escolas públicas começou a ser difundida por Bolsonaro no dia 10 de janeiro de 2016 através de um vídeo que publicou no Facebook. Dois dias depois, o Ministério da Educação emitiu um comunicado em que afirma que “não produziu e nem adquiriu ou distribuiu o livro ‘Aparelho Sexual e Cia’”. A instituição também declarou que “não há qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco consta nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta”.

A assessoria de imprensa da Companhia das Letras confirmou que o interior de um exemplar mostrado por Bolsonaro no mesmo dia da entrevista, em uma publicação no Facebook, faz parte do livro.

De acordo com a assessoria de imprensa da editora, o livro “nunca foi comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto ‘kit gay’. O Ministério da Cultura [outra pasta] comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas”.

A Companhia das Letras também afirmou que o livro “conta ainda com uma seção chamada ‘Fique esperto’, que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia — mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do Disque-denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos”.

A obra foi publicada em dez línguas e vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares, foi transformada em uma exposição apresentada por duas vezes na Cité des Sciences et de l’Industrie em Paris.

O MBL (Movimento Brasil Livre) publicou no Twitter a falsa informação de que o candidato pelo PSL expôs o “Kit Gay” na entrevista organizada pela “Rede Globo”. Outros usuários disseminaram a informação de que crianças recebem a obra nas escolas.

Em 2016, a revista “Nova Escola” publicou um desmentido sobre a falsa informação a respeito do livro.

As postagens enganosas foram verificadas agora pela “Nova Escola”, pela “AFP”, além do UOL, do "SBT" e da "Veja", todos integrantes do projeto Comprova.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.