Não há evidências de que EUA mandarão prender Lula e Dilma
Não há evidências de que os Estados Unidos poderão expedir mandados de prisão contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ao contrário do que indica uma mensagem de 2016 que voltou a circular na última semana, de forma viral, como se fosse atual. O material carece de confirmação e está fora de contexto.
O texto foi publicado pelo site “Imprensa Viva” em dezembro de 2016 quando o Departamento de Justiça norte-americano (DoJ) revelou uma investigação que aponta que políticos e funcionários de estatais brasileiros receberam dinheiro para ajudar nos interesses da Odebrecht e da Braskem, braço petrolífero do grupo. Segundo os documentos (aqui e aqui), o total pago em propina pelas duas empresas é de US$ 599 milhões.
A investigação norte-americana analisou atos de corrupção em vários países em que a Odebrecht atuava, além do Brasil. Funcionários do Departamento de Operações Estruturadas (setor que coordenava pagamento de propinas) também atuaram nos Estados Unidos, mais especificamente em Miami. Além disso, o esquema de corrupção da construtora se utilizou de instituições financeiras norte-americanas.
Na época, o site "Antagonista" e os jornalistas Diogo Mainardi e Claudio Dantas informaram que pedidos de prisões dos ex-presidentes petistas teriam sido decretados pelo FBI, o que não se concretizou.
Nos documentos divulgados pelo DoJ, Lula e Dilma não são citados nominalmente. No entanto, o jornal “O Estado de S.Paulo” apurou à época que o ato ilícito descrito na papelada norte-americana é o repasse de R$ 50 milhões da Odebrecht à campanha da ex-presidente - quantia que teria sido solicitada pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Investigadores brasileiros já haviam apontado na 35ª fase da Lava Jato o pagamento irregular a Mantega.
Em troca do montante, foram concedidos benefícios tributários à Braskem por meio de legislação, informou o DoJ. O ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse em delação premiada que uma das formas de oferecer vantagem à empresa foi a Medida Provisória 470, de 2009, relativa ao crédito prêmio do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
No texto viral da “Imprensa Viva”, o site atribui erroneamente a medida provisória a Dilma Rousseff. Na verdade, foi Lula quem adotou a legislação. Outro erro é afirmar que todo o sistema de corrupção “passou pelo crivo do ex-presidente Lula” — o documento do DoJ não confirma isso.
Usando dados da ferramenta Spike, do Newswhip, é possível ver que o link para a notícia foi divulgado mais de 60 mil vezes. A ferramenta CrowdTangle indica que a postagem com mais engajamento sobre o assunto no Facebook atualmente é da página Por um Brasil Melhor, publicada em maio deste ano, que até agora já conquistou mais de 20 mil interações. Entre elas, 11 mil compartilhamentos.
Não é a primeira vez que a especulação é requentada: no final do ano de 2017, o "Boatos.org" fez uma verificação a respeito, porque a história havia voltado a circular na internet.
O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.
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